Escrevo, tal como vivo: de maneira muito simples, transparente e muito nua.
Por isso a minha vida, tal como a minha escrita, fere por ir direita e directa ao alvo...
Anoiteceu e o frio apanhou-me por dentro.
Não sei se é por isso, mas não consigo encontrar palavras agradáveis nem amorosas.
Uma vida com memória, como a minha, deu muito trabalho.
Foi pelo passar dos dias, que o senhor António que agora eu sou, precebeu que muita água passou sob as pontes, que os dias também se escoaram e ficou o passado.
Agora, o senhor António que agora eu sou, tem uma vida de lorde.
Levanta-se cedo, aí pelas 6 e trinta da manhã. Mas, porque quer. Se lhe apetecer fica na cama toda a manhã.
Mas, não: levanta-se cedo porque gosta. Começa logo a trabalhar. Lê jornais, ouve rádio, vê televisão, escreve e publica.
Depois de um pequeno almoço frugal - chá e pão -, abala de casa, normalmente rumo ao Cabedelo.
De bicicleta ou a pé se não chover. O frio não o incomoda. Só vai buscar o carro à garagem se estiver a chover.
Vai ver o mar. O senhor António, aquele que agora sou e o do passado, sempre gostou do mar.
Agora, o senhor António que eu sou, tem uma vida de lorde. Só trabalha 10/12 horas. Dantes, trabalhava 18. Era duro. Foi preciso muita força de cabeça, para não deixar o corpo cansado mandar. Quando se sentia cansado, pensava nos pescadores...
Agora, o senhor António, que eu sou, tem uma vida de lorde.
Continua a adorar o mar.
Gosta de ondas, nortadas e espuma branca.
O senhor António, que eu agora sou, continua a gostar do que lhe tira o fôlego.
Tem fascínio pelo improvável.
Almeja o quase impossível.
Porém, o coração do senhor António que eu agora sou, continua a ser livre, mesmo amando tanto.
Mais mãos tivesses.
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