As pessoas viveriam de quê?..
Em tempo.
“Há uns anos, já demasiados,
quando o salário mínimo subiu pela última vez, depois de me bombardear com uma
série de “não pode ser” e “onde é que este país vai parar”, um pequeno
empresário perguntou-me qual era a minha opinião ao respeito. Pensei: se te
respondo com é bom ou com é mau e se te explicar por quê, passado cinco minutos
hás-de esquecer-te de tudo o que te disser e será uma perda de tempo.
Optei, portanto, por começar
por perguntar-lhe quantos empregados tinha. Respondeu-me três ou quatro, já não
recordo, mas também não faz grande diferença para esta narrativa, como se verá
já a seguir.
Disse-lhe então que seria ele
mesmo a responder à sua própria pergunta e perguntei-lhe o que é que seria
melhor para o seu negócio, se ter mais 40 ou 50 euros na folha de salários de
todos os meses e ficar à espera do aumento na facturação provocado pelo
acréscimo de rendimento dos seus muito mais que 3 ou 4 clientes, se manter
inalterada a folha de salários e ficar à espera da diminuição da facturação
resultante dos efeitos da inflação sobre o rendimento desses mesmos prezados
clientes.
Bem me lixou. Respondeu-me que
a segunda, porque os 40 ou 50 euros a menos na folha de salário estariam
garantidos à partida caso o salário mínimo não fosse actualizado e nada lhe
garantia que os seus clientes comprariam menos, até porque a sua distinta
clientela não era desses que recebem o salário mínimo.
Bem se lixou. Há um par de
meses, passei à porta do seu estabelecimento. Estava fechado. Parece que os
empregadores dos seus clientes, os fornecedores desses empregadores e os
fornecedores desses fornecedores tiveram todos a mesma ideia. É realmente uma
pouca-vergonha que os Sócrates, os Passos Coelhos e respectivos Teixeiras dos
Santos e Gaspares não se tenham empenhado na invenção de um consumo que se faça
sem salários, próprio para empreendedores alérgicos ao risco. Resumindo: “o que
eles querem é tacho”, como dizia o meu empresário montado em toda a sua razão.”
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