“O que aí vem é o mais próximo de que alguma vez estivemos, desde que há telefone, de uma guerra em termos do impacto que terá na sociedade portuguesa: mudanças reais e drásticas na vida quotidiana, tensão social extrema, queda de alguns mitos, questionamento de certezas tidas por imortais.
Políticos de plástico têm utilizado a expressão de Churchill " sangue , suor e lágrimas". É difícil de compreender que se peça sacrifícios às pessoas se esses sacrifícios não forem distribuídos. E as palavras não podem, em alturas destas, ser tão estupidamente vãs. Essa parte do discurso, proferido em 13 de Maio de 1940, na Câmara dos Comuns, até foi "nada tenho para oferecer senão sangue, trabalho árduo, lagrimas e suor". "Trabalho árduo" ( toil) não estava no discurso por acaso.
Se mobilizamos as pessoas para uma batalha difícil, se as pessoas vão sentir enormes dificuldades para pagar contas que há dois ou três pagavam despreocupadamente, se outras vão literalmente passar fome, o lado simbólico, que tanto elogiam em Churchill, tem de ser respeitado. Pagar ordenados principescos a funcionários políticos para dirigir uma exposição de cultura ou ver grandes accionistas receber a totalidade dos dividendos como se não se passasse nada, se simboliza alguma coisa é a hipocrisia política.
A conversa da partilha dos sacrifícios será, temo bem, um grande embuste. Ao mesmo tempo que os salários serão cortados e que as instituições de solidariedade social verão os seus recursos extintos, veremos notícias como "venda de Ferraris aumenta 20%". Tudo perfeitamente legal, estou certo, mas então não nos mintam.”
FNV, no Mar Salgado
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