num colóquio com Manuel da Fonseca e Piteira Santos
Ao fazer a minha visita, habitual e diária, ao aldeia olímpica tive conhecimento que “faz hoje 22 anos que um grande, enorme coração deixou de bater. Um coração feito de ternura, de solidariedade, de generosidade.”
Foi o coração do Poeta Joaquim Namorado, com quem tive o privilégio de conviver durante anos na redacção do Barca Nova, um Poeta para quem a poesia foi sempre uma máquina de produzir entusiasmo.
Façam ruínas
do que me afirmo,
espalhem ao vento as cinzas
do que sou:
na parcela mais remota do que fui
estou.
Dizem que foi Joaquim Namorado, para iludir a PIDE e a Censura, quem mascarou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
Joaquim Namorado, considerava-se um figueirense de coração e de acção. Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo. Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca Nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa. Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, na altura presidida pelo eng. Aguiar de Carvalho, instituiu um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, na sua fugaz passagem pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”. Mas, não acabou com a mensagem que o Lutador de toda uma vida legou:
Santana Lopes, na sua fugaz passagem pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”. Mas, não acabou com a mensagem que o Lutador de toda uma vida legou:
No tempo em que os animais falavam
Liberdade!
Igualdade!
Fraternidade!
Às vezes dou por mim a pensar o que diria o J. Namorado dos tempos que agora vivemos.Para além de uns impropérios que generosamente atiraria a alguns figurões, teria ele capacidade de entender as novas tensões? Continuaria a refugiar-se no casulo de aparência estalinista, mas que escondia um ser sensível e até frágil? Aguentaria o embate da incerteza deste tempo?
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