num colóquio com Manuel da Fonseca e Piteira Santos
Ao fazer a minha visita, habitual e diária, ao aldeia olímpica tive conhecimento que “faz hoje 22 anos que um grande, enorme coração deixou de bater. Um coração feito de ternura, de solidariedade, de generosidade.”
Foi o coração do Poeta Joaquim Namorado, com quem tive o privilégio de conviver durante anos na redacção do Barca Nova, um Poeta para quem a poesia foi sempre uma máquina de produzir entusiasmo.
Façam ruínas
do que me afirmo,
espalhem ao vento as cinzas
do que sou:
na parcela mais remota do que fui
estou.
Dizem que foi Joaquim Namorado, para iludir a PIDE e a Censura, quem mascarou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Santana Lopes, na sua fugaz passagem pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”. Mas, não acabou com a mensagem que o Lutador de toda uma vida legou:
No tempo em que os animais falavam
Liberdade!
Igualdade!
Fraternidade!
Às vezes dou por mim a pensar o que diria o J. Namorado dos tempos que agora vivemos.Para além de uns impropérios que generosamente atiraria a alguns figurões, teria ele capacidade de entender as novas tensões? Continuaria a refugiar-se no casulo de aparência estalinista, mas que escondia um ser sensível e até frágil? Aguentaria o embate da incerteza deste tempo?
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