quinta-feira, 12 de junho de 2025

A rotunda Poeta Joaquim Namorado: a injustiça dura sempre até um dia...

Teresa Namorado"homenagem ao meu Pai".

Por iniciativa de Santana Lopes, a Câmara da Figueira reparou uma injustiça que durava desde Janeiro de 1983.
A cerimónia teve a presença de familiares de Joaquim Namorado, dos presidentes de Câmara e Assembleia municipais, respectivamente, Pedro Santana Lopes e José Duarte Pereira, da presidente da Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, Rosa Batista, outros autarcas e personalidades ligadas ao Saber, à Cultura, à Literatura e a Política e alguns Amigos e admiradores do Poeta.

Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo. Em 1982, Joaquim Namorado aparece em 3º. Lugar na lista APU concorrente à Assembleia Municipal da Figueira da Foz - e é eleito.
Em 1983, por iniciativa do semanário barca nova é lançada a ideia de uma “homenagem a Joaquim Namorado”. Nos dias 28 e 29 de Janeiro desse ano a Figueira prestou-lhe essa significativa Homenagem.
Dela faz parte uma exposição sobre “O neo-realismo e as suas margens”, que depois foi apresentada em Coimbra, Guimarães e Fafe, em versão simplificada.
O executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz, por proposta do então vereador da Cultura, António Augusto menano, cria o “Prémio Joaquim Namorado”, para ser atribuído a contos inéditos, invocando a acção cultural exercida por Joaquim Namorado no nosso concelho. Em 29 de Janeiro é conferida a Joaquim Namoarado a Ordem da Liberdade – Diário da República nº. 62, 2ª. Série de 16/3/1983. Era Presidente da República na altura o General Ramalho Eanes.
Seguiram-se outras homenagens. Recordo que a Assembleia Municipal de Alter do Chão, sua terra natal, em reunião de 4 de Fevereiro, por unanimidade, resolve associar-se à “Homenagem nacional prestada a Joaquim Namorado".
A Junta de Freguesia de S. Julião, delibera na sua reunião de 14 do mesmo mês no mesmo sentido.
A Assembleia Municipal e a Câmara de Coimbra atribuem-lhe, por unanimidade, a Medalha de Ouro da cidade.
Por esse tempo, Joaquim Namorado era um Homem feliz. Por esse tempo, eu, como elemento de um colectivo que se chamava barca nova, também era um homem feliz.
Na altura, também por proposta do Vereador da Cultura, António Augusto Menano, a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta foi deliberada, por unanimidade, por um executivo camarário presidido pelo eng. Aguiar de Carvalho.
Chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão.

Joaquim Namorado licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
Na tarde de ontem, por iniciativa do Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Dr. Pedro Santana Lopes, a Figueira - e a sua população - pagou uma dívida de gratidão que tinha para com o Poeta e Cidadão Joaquim Namorado e que durava há demasiado tempo.

A homenagem ao Poeta Joaquim Namorado divulgada por outros.
"A atribuição do topónimo, aprovada por unanimidade em reunião de toponímia de 10 fevereiro de 2025, foi para o Presidente da Câmara Municipal da Foz, Pedro Santana Lopes, “um ato de justiça, ainda que tardio”, que fez alusão ao seu anterior mandato, no qual decidiu não dar continuidade ao Prémio Joaquim Namorado, uma responsabilidade que o autarca assumiu como inteiramente sua e não da então responsável municipal pela cultura.
Pedro Santana Lopes assumiu ainda que, à data, a autarquia atribuiu um novo nome ao prémio literário, «João Gaspar Simões», que ainda hoje promove, mas que deveria ter-se mantido o «Prémio Joaquim Namorado» ou, “ter criado outro”.
O edil sublinhou a sua satisfação em poder ter tido a oportunidade de reparar uma falta “que estava para ser reparada” e que o foi “por sua iniciativa”.
Para além do Presidente da Câmara Municipal a cerimónia contou com a presença da filha, netos e bisneto de Joaquim Namorado; do presidente da Assembleia Municipal, José Duarte Pereira; da presidente da Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, Rosa Batista; dos vereadores do executivo municipal; de personalidades de diversas áreas e das Guardas de Honra dos Bombeiros Voluntários e Sapadores Municipais.
Na sua intervenção, a presidente da Junta de Buarcos e São Julião salientou que “honrar a memória de Joaquim Namorado é não permitir que caia no vazio e no esquecimento muito daquilo que foram as suas vivências por estas terras.”
“Foi aqui que passou muito tempo, foi aqui que discutiu muitas ideias, e, portanto, entendemos [executivo da junta de freguesia] que este seria o local mais próximo daquela que foi a sua residência aqui na Figueira da Foz”, referiu a autarca.
“Tenho a certeza de que Joaquim Namorado onde se encontra também está feliz com esta atribuição”, advogou Rosa Batista.
Maria Teresa Namorado, filha do homenageado, agradeceu em nome da família, e em nome próprio, dos filhos, sobrinhos e netos e também de sua irmã, “muito recentemente falecida”, a “distinção e enorme honra que o município da Figueira da Foz” prestou “à memória de seu pai, “que não nasceu nem faleceu na Figueira da Foz, mas que fez desta cidade a sua terra, encontrando em muitos figueirenses, em muitos jovens universitários, um conjunto de correligionários políticos e intelectuais, uma plêiade de amigos e camaradas que consigo pensaram e defenderam as causas e os valores da liberdade e da democracia por que ele tanto pugnou”.
“O seu pensamento ideológico e o seu ativismo político, cívico e intelectual deixaram marca em muitas gerações” frisou Maria Teresa Namorado, que recordou que “a nossa casa na Serra era um entra e sai de amigos reunidos em seu torno, em tertúlia constante”.
A finalizar a sua intervenção, a filha de Joaquim Namorado sublinhou que “nestes tempos desconcertantes e incertos que vivemos”, há um poema do pai, de que gosta muito, que lhe vem muitas vezes à memória, pela sua “atualidade”, «É preciso que saibas»:
Se espetas / Certeiro/ Ao coração do Povo/ É a ti que feres.
Se cercas / De grades / A vida do Povo / É a ti que prendes.
Se julgas / Sem Justiça / O direito do Povo / É a ti que condenas.
Se negas / A verdade / À palavra do Povo / É a ti que mentes.
Se lavras /No duro chão dos dias / O tempo futuro / É nele que vives."

Diário as Beiras, edição de 12 de Julho de 2025.
Diário de Coimbra: edição de 12 de Julho de 2025.

Joaquim Namorado dá nome a rotunda em Buarcos

"A rotunda que faz interligação entre a Avenida Dr. Mário Soares e a Rua da Várzea de Buarcos tem uma nova designação. Desde ontem à tarde que se apelida de Rotunda Poeta Joaquim Namorado, numa homenagem a um dos iniciadores e teóricos do movimento neorrealista em Portugal, cuja cerimónia de inauguração do topónimo decorreu perante a presença do executivo da Câmara da Figueira da Foz e da Junta de Freguesia de Buarcos e S. Julião, bem como representantes de diversas entidades figueirenses, família e amigos do homenageado a título póstumo."

Campeão das ProvínciasPoeta Joaquim Namorado eternizado numa rotunda da Figueira da Foz


Figueira na Hora: Rotunda Poeta Joaquim Namorado: “era uma falta que estava para ser reparada”

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