segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Para que serve esta comemoração do 25 de novembro? Vasco Lourenço, capitão de Abril, responde a Daniel Oliveira

O coronel Vasco Lourenço tem 82 anos, é presidente da Associação 25 de Abril, ator e autor central do 25 de Novembro. Um dos principais obreiros do 25 de Novembro recusa a equiparação com o 25 de Abril e não aceitou estar presente na sessão solene de hoje. Ouça aqui a conversa com Daniel Oliveira, no podcast “Perguntar Não Ofende”
Nota de rodapé
(Carlos Matos Gomes)
"Em 25 de Novembro de 1975, Portugal constituía uma pedra anómala no tabuleiro de um jogo muito mais vasto, jogado pelos grandes atores internacionais num período de contenção da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, que se traduziu nos acordos de Helsínquia no verão de 1975, mas onde se jogava a fidelidade e a obediência do flanco sul da NATO. A resistência dos gregos à ditadura dos coronéis ameaçava alterar o regime de submissão que vinha desde a Segunda Guerra, na Itália, o compromisso histórico entre a Democracia Cristã de Aldo Moro e o PCI de Berlinguer corria o risco da entrada de comunistas no governo de um grande país da NATO, o fim da fiel ditadura de Franco em Espanha também causava preocupações. Portugal era o elo mais fraco, o mau exemplo e aquele onde um golpe com argumento de “salvar” a democracia do comunismo era mais fácil de executar e de credibilizar perante a opinião pública internacional.
O 25 de Novembro resulta da decisão dos EUA atacarem o ponto fraco, que tinha a vantagem de estar a descolonizar Angola e estava dependente do auxílio americano para retirar os seus nacionais. Como é evidente nunca surge como razão para o 25 de Novembro a defesa da democracia, nem da liberdade, nem dos direitos do homem que amanhã serão invocados na Assembleia da República por coristas encoirados, sob o lema: Tudo pela Nação, nada contra a Nação! Serão proclamados, com voz embargada, valores e heróis. Ameaças e diabos. Milagres e mocadas em Rio Maior.
Em 1975, depois da Pérsia e da Jordânia corrigirem uma disputa fronteiriça, Kissinger encerrou o apoio aos EUA aos curdos numa ação que o Congresso classificou como de venda, justificando a decisão a um congressista: Ação secreta não deve ser confundida com trabalho missionário.” Quanto ao golpe do Chile, em 1973, de acordo com uma transcrição desclassificada de uma reunião apenas duas semanas depois de Pinochet ter assumido o poder, Kissinger afirmou os diplomatas americanos que não deveriam colocar a questão das violações dos direitos humanos pelos golpistas, acrescentando: “Acho que devemos entender a nossa política: por mais desagradável que eles sejam, o governo [Pinochet] é melhor para nós do que Allende foi”.
Kissinger foi o mestre que conduziu o processo político em Portugal que conduziu ao 25 de Novembro e que, na narrativa oficial, restaurou a democracia em Portugal contra a ditadura comunista. O 25 de Novembro tem esta personagem de democrata exemplar como patrono! Como o seu São Jorge. É um facto."

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