O artigo do Pacheco Pereira de ontem intitulado: “Porque é que na‘geração mais preparada de sempre’ a ignorância cresce”, é pertinente.
Já na Grécia Antiga os filósofos falavam da juventude com desdém e diziam que já nada era como dantes. Contudo, isso não pode fazer esquecer uma realidade dos tempos actuais: a ignorância da juventude e mesmo a da “meia-idade”. Sabem tudo em termos tecnológicos e digitais, mas nada sabem da história e da cultura dos povos e das nações. São os mais bem preparados, porque têm curso superior, mestrados e qualquer outro tipo de promoção.
Já na Grécia Antiga os filósofos falavam da juventude com desdém e diziam que já nada era como dantes. Contudo, isso não pode fazer esquecer uma realidade dos tempos actuais: a ignorância da juventude e mesmo a da “meia-idade”. Sabem tudo em termos tecnológicos e digitais, mas nada sabem da história e da cultura dos povos e das nações. São os mais bem preparados, porque têm curso superior, mestrados e qualquer outro tipo de promoção.
Todavia, as suas
conversas são banais e sempre
focadas em trivialidades. Nós os de
70 anos somos para eles
dinossauros em vias de extinção.
De facto, “as duas grandes fontes
da nossa cultura ocidental
desapareceram do saber
circulante: a Bíblia e a cultura
greco-latina” e isso não pode deixar
de influenciar o seu pensamento e
as suas opções políticas e cívicas.
Porventura, seremos “velhos do Restelo”.
Quero acreditar que a actual juventude ainda nos vai surpreender agradavelmente.
"A ascensão da ignorância
agressiva e o ataque ao saber
são perigosos para
a democracia e a liberdade.Este é o tipo de artigos em que já
se sabe de antemão as críticas,
mais “bocas” do que críticas,
que vai receber. Passadista,
“Velho do Restelo”, velho tout
court, arrogante, reaccionário,
antiquado, com incompreensão do que é a
“nova” geração e as mudanças culturais em
curso, com uma visão ultrapassada do que
são as novas “competências”, não
compreendendo os novos “saberes”, preso
a um mundo que já acabou e a um elitismo
sem sentido numa sociedade muito mais
igualitária, em que os “saberes” do passado
são inúteis. Muito bem, é tudo isto, mas,
mesmo assim, reafirmo que o mundo
cultural circulante nos dias de hoje é
particularmente pobre, é pobre de
referências, é pobre de “histórias”, é pobre
de vocabulário, e alimenta uma ignorância
agressiva, em particular nas redes sociais, e
isso é péssimo para a democracia. Ainda
mais, é um mundo que, pela sua fragilidade
cultural, é particularmente sensível às
modas, sem qualquer distanciação e
consistência. Tenho consciência de que este tipo de
catastrofismo cultural, ainda por cima com
uma componente geracional, é recorrente
na história, tem características comuns que
se repetem e tem-se revelado muitas vezes
errado. É cíclico nas suas lamentações dos
“velhos” para as gerações mais novas, mas
se há coisa que a história também revela é
que, às vezes, existe mesmo decadência.
É
um pouco aborrecido estar com estes
caveats todos — aqui está uma palavra em
desuso —, mas a ascensão da ignorância
agressiva e o ataque ao saber são perigosos
para a democracia e a liberdade.
Decadência é outra palavra maldita. 250
palavras gastas com prevenções.
Aqui há alguns anos eu dei aulas
partilhadas com Jaime Gama sobre
“relações internacionais” no ensino
superior. Nos dias de exames, verifiquei que
muitos alunos corriam à secretaria para
obter um adiamento, “porque fazia muitas
perguntas difíceis”.
Tentei perceber quais
eram as “perguntas difíceis” e de onde
vinha o medo. Consegui identificar a origem
num exame em que o tema que o aluno
estava a expor eram os eventos da Revolta Húngara de 1956, que ele conhecia
minimamente. De repente, suspeitei de algo
estranho e perguntei-lhe esta simples coisa:
onde é que é a Hungria?
Pânico, e completa
ignorância de onde era a Hungria, onde
estava o Danúbio, e, após tentativas e erros,
a Hungria ficava para os lados do
Cazaquistão. Comecei então a fazer
perguntas deste tipo e estas eram as
“perguntas difíceis”.
Tratava-se de estudantes do ensino
superior prestes a acabar a licenciatura.
Mas, andando para trás e para a frente,
tenho as mais sérias dúvidas de que seja
possível hoje ler a grande maioria da grande
literatura portuguesa, Camões, Camilo, Eça,
por exemplo, mesmo que, no caso de Eça,
seja um dos raros autores ainda presentes
numa lista de leituras em grande parte
jornalística. Em linhas gerais, a parte
narrativa de alguns livros que ainda
sobrevivem talvez subsista, mas duas
grandes fontes da nossa cultura ocidental
desapareceram do saber circulante: a Bíblia
e a cultura greco-latina. Ora, duvido muito
de que textos literários que falam como
quem respira de Orfeu, Sísifo, David, Golias, da Guerra do Peloponeso, de Marte, de
Salomão, do Bom Samaritano, de Péricles,
da “voz clamando no deserto”, de Abraão,
de Ulisses, do Cavalo de Tróia, de Homero,
mesmo de Caim e Abel, de César Augusto,
de Esparta, do Hades, de Diana, a caçadora,
de Herodes, etc., etc., hoje signifiquem
alguma coisa. O mesmo para muitas lendas,
metáforas, ditos, alcunhas, etc.
É importante saber-se isto? Claro que é,
por uma razão muito simples: é que não se
sabendo é-se mais pobre da cabeça, até
porque com esta ignorância vem um pacote
de um mundo mais desértico. Há
excepções, como é óbvio, mas as excepções
não contam. O mundo cultural da “geração
mais preparada” é como o das conversas
dos participantes do Big Brother. Vale a
pena ouvir, uma mistura que não passa de
uma espécie de psicologia barata, e não é
por acaso que uso esta comparação porque
um dos alicerces desta ignorância agressiva
é mesmo esse tipo de conversa, que vai
muito para além da Casa e dos
comentadores em estúdio. Ele estende-se
aos/às influencers e ao mundo das redes do
Chega, raiva, ressentimento,
sentimentalismo barato, pseudodepressões,
“bocas”, erros de ortografia, escasso
vocabulário, e muita, muita ignorância. E
tem um público jovem.
O mundo não está brilhante, porque este
tipo de gente é particularmente fácil de
manipular."
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