Carmo Afonso hoje no Público:
"Estou convencida de que a maioria dos políticos de direita não sabe bem o que fazer com o 25 de Abril. Não puderam ignorá-lo, sobretudo estando no poder e comemorando-se o cinquentenário, mas também não conseguiram celebrá-lo sem uma reserva ou sem uma tentativa de o desvalorizar.
Parte da bancada do PSD, e o próprio Luís Montenegro, não usou um cravo na lapela. É um pequeno sinal. Uma maneira de afirmar que não celebram o 25 de Abril inteiro.
Já da bancada do CDS, ouvimos Paulo Núncio com a clássica exortação ao 25 de Novembro.
Nunca falha. Mas invocar o 25 de Novembro nas comemorações do 25 de Abril é como ir a um concerto de Sérgio Godinho com headphones para ouvir uns hinos e umas marchas do Estado Novo.
Nestas performances da direita no 25 de Abril, Carlos Moedas passou com distinção. Não apoiou o Arraial dos Cravos, no Largo do Carmo, e, com isso, transformou um pequeno evento numa manifestação imensa. Nunca o Carmo esteve tão cheio na véspera do 25 de Abril. Devemos isso a Carlos Moedas. Por outro lado, fez um discurso para homenagear a revolução. Nesse discurso, percebemos que tem uma visão muito própria do que se passou em 1974. Chama-lhe 25 de Abril moderado, mas eu acho que deveria chamar-lhe 25 de Abril , mas eu acho que deveria chamar-lhe 25 de Abril descafeinado. Dúvidas houvesse. Relata quem esteve nas celebrações do Terreiro do Paço que não passaram o Grândola. Parece um verso da canção de Adriana Calcanhotto: 25 de Abril sem Grândola, sou eu assim sem você.
Foi Marcelo quem ganhou esta competição. Podia ter sido discreto e deixar a ocasião passar de fininho. Só que não. Tomou conta da agenda. Ocupou-a. Quis ser o foco das atenções e fê-lo com a subtileza que costumamos atribuir aos elefantes em lojas de louça. Informou-nos de que cortou relações com o seu filho por causa do caso das gémeas. Suponho que quis mostrar aos portugueses que fez uma justiça qualquer. Mas que portugueses ficam satisfeitos por saber que o Presidente da República se incompatibilizou com o seufilho? E, já agora, desde quando um pai — para se mostrar íntegro — coloca a falha moral no seu filho? Esta parte foi só um aquecimento. Num jantar com jornalistas estrangeiros, fez o pleno. Caracterizou o primeiro-ministro como sendo de um país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais. Disse também que, por causa disso, era muito difícil de entender. Num país que ainda não integrou bem a sua ruralidade, Marcelo achou que o preconceito classista contra as pessoas que não foram educadas nos centros urbanos seria uma tirada bem metida. Este golpe de génio foi apenas ultrapassado pelo momento em que se referiu a António Costa, um homem lento por ser oriental.
A sensação que temos a ouvir Marcelo é igual à de estar ao telefone com alguém que julga ter desligado a chamada e desata a dizer coisas inconvenientes. Preferíamos não ter ouvido."
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