Montenegro propõe-se ficar com um governo sub-30%, diminuído e diminuto, governando com despachos, portarias e decretos-lei, cercado por uma oposição fortíssima, entre um PS que vai criticar cada palavra e um Chega que vai odiar cada vírgula. Dirá Marcelo que sim? E para quanto tempo? E para que resultado?
Não sabemos se Pedro Nuno Santos daria um bom primeiro-ministro, mas intuímos que dará um temível – e duplo - opositor: à AD e ao Chega. Vamos ter um Parlamento tonitruante e canibal, desordeiro e arruaceiro. Só que o problema não começa por ser esse: não será o mesmo Chega em versão XL. Porque o XL constrói um novo Chega.
É nisto que o Parlamento torce o rabo. Porque um milhão e cem mil portugueses podem até estar errados mas não podem ser ignorados. O Chega tem agora uma outra legitimidade para fazer exigências políticas e até para confrontar as três figuras cimeiras de Estado. Desprezar quase cinco dezenas de deputados eleitos é ignorar a sua própria derrota. Como é que se lida com o Chega? A pergunta é agora remetida para o Presidente da República.
A campanha serviu para rodar 360 graus e acabar como começou: com o receio que outra coisa não nasceria disto que não fosse o crescimento a galope da extrema-direita. Ei-la. Esse crescimento deve-se aos falhanços sucessivos de PS e PSD na governação, mas quem fez esta ocasião não foi o ladrão, foi o polícia. E nisso António Costa tem toda a razão: com umas eleições causadas por um Ministério Público que arrostou suspeitas mal fundamentadas sobre um primeiro-ministro, e um louco inimputável que decidiu guardar 75 800 euros em livros no Palácio de São Bento, vimos o desastre antes de ele acontecer. A campanha criou a ilusão de que talvez não viesse a ser tão mal. Foi pior.
Critiquei muitas vezes a governação de António Costa, que pouco fez além de subir o salário mínimo, descer os passes sociais e controlar as contas públicas, atirando dinheiro para cima do SNS sem o resolver e deixando a habitação e a educação paradas à chuva da degradação. Mas mesmo dois anos de maioria absoluta relapsa e decadente não se derrubam por linhas tortas – nem por processos judiciais sem fortes indícios. Só razões políticas teriam consequências políticas.»
Sem comentários:
Enviar um comentário
Neste blogue todos podem comentar...
Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas.
O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor.
No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM.
Obrigado pela sua colaboração.