quarta-feira, 10 de maio de 2023

Para quê preocupar-nos com as alterações climáticas, se não houver combate, ao mesmo tempo, ao problema da desigualdade?

"Bons números da economia ainda não chegaram ao bolso dos portugueses", disse o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa um dia destes.

A resposta  às críticas do Presidente da República não demorou. O ministro da Economia,  António Costa Silva, acredita que os portugueses vão sentir no bolso a evolução da economia portuguesa. Na sua opinião,  "cedo ou tarde" resultados da economia vão chegar ao bolso dos portugueses.

A realidade, porém, para a quem quiser ver, está bem visível: os pedidos de ajuda ao Banco alimentar contra a fome duplicaram em relação ao ano passado. Há cada vez mais pessoas que, apesar de terem emprego, não conseguem ter dinheiro para comer.

Quem, como eu, vive de uma esmifrada e parca reforma conseguida depois de 44 anos de descontos para a Segurança Social, há muito que não actedita em políticos que se limitam a debitar mentiras.

Todos os dias tenho de fazer contas, pois é com o meu dinheiro que tenho de me alimentar, pagar a medicação, água, luz, gaz, internet, impostos, seguro do carro, oficina, gasolina, etc. Nada de mais, pois nunca vivi sem ter de "apertar o cinto"

Apesar de dizerem que vivemos em democracia, vivo há 4 décadas a ver milhões de portugueses a deixarem-se enganar, eleição após eleição. 

Chateia-me ver tanta corrupção passiva e tanta corrupção activa. 

Nasci numa Terra pobre e numa família pobre. Reconheço, obviamente, que com o 25 de Abril de 1974 houve muito progresso, muita recuperação, muita melhoria  nas vidas dos habitantes de uma pequena aldeia "localizada à beira do Atlântico, perto da importante cidade balnear da Figueira da Foz (Portugal), onde se vivia pior que nas localidades vizinhas." Não esqueço, "a ausência de esgotos, a corrente eléctrica considerada uma excepção, a miséria material, as condições de trabalho desumanas, a deterioração das células familiares, a má nutrição era, lamentavelmente, a situação de toda uma região economicamente desfavorecida".

Melhorou-se muito. Porém, quase 50 anos depois, aí estão os retrocessos e as contas para pagar. A promiscuidade entre a alta finança e os sucessivos governos, antecedida pela destruição do que não devia ter sido destruído, deu no resultado que está à vista.

Confesso que, para mim, é um mistério que milhões de portugueses, que trabalham e  pagam os seus impostos, apesar de toda a porcaria feita por quem nos governa, pelo menos desde 1991, não consigam abrir os olhos para a realidade no momento certo: no acto de votar.

Todos os partidos,  têm culpa no estado a que isto chegou. Com honrosas e meritórias excepções, que existem em todos os partidos, deputados e a maioria dos políticos só fez bosta. 

Contudo, sabiam o que estavam a fazer: uns mais do que outros, com as honrosas e meritórias excepções, trataram foi da vidinha. 

A democracia nunca está garantida. Não existe verdadeira democracia sem partidos. Mas também não há democracia sem cidadania e sem comunicação social sem mordaças.

Estamos há dezenas de anos a viver num País aprisionado pela promiscuidade da política com os negócios, com a blindagem dos partidos aos cidadãos, com a manipulação do Parlamento por interesses exteriores, com a continuada desresponsabilização dos decisores políticos financeiros e gestores.


Termino, numa interpretação livre, com a noção de sustentabilidade de Muhammad Yunus, Prémio Nobel da Paz de 2006.

“Há uma máquina que suga toda a riqueza de baixo e a empurra para o topo.

De que servem as nossas preocupações com as alterações climáticas, se não enfrentarmos, ao mesmo tempo, o problema da desigualdade? Como se combatem os efeitos do aquecimento global sem desmontar "a máquina que suga toda a riqueza de baixo e a empurra para o topo"? Terá algum efeito investir milhares de milhões na transição energética, na mudança dos combustíveis fósseis para o hidrogénio, o vento e o sol, se ao mesmo tempo o desemprego e a pobreza convivem do outro lado da rua, ou do outro lado do Mundo, sem que a esse combate dediquemos o nosso tempo, talento e dinheiro (os que o têm)?”

Há pessoas a quem vale a pena dar ouvidos. Ou pelo menos ouvir. Muhammad Yunus é uma delas. 

Terão oportunidade de o ouvir, na próxima sexta-feira, a partir das 10.30 horas. 

Nesse dia participa no Fórum da Sustentabilidade e Sociedade, na Câmara de Matosinhos. Há transmissão,  em directo nos sites do JN, DN, TSF e "Dinheiro Vivo".

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