Que não haja lugar para duvidas: a Figueira tem pessoas muito inteligentes.
Portanto, quando elogiam a prestação de alguns autarcas nas reuniões de câmara, sem sequer terem assistido ao evento, não é por serem pessoas desatentas ou estúpidas...
Contudo, tenho cá uma leve impressão que é para tentar fazer de muitos de nós ignorantes e estúpidos...
Portanto, quando elogiam a prestação de alguns autarcas nas reuniões de câmara, sem sequer terem assistido ao evento, não é por serem pessoas desatentas ou estúpidas...
Contudo, tenho cá uma leve impressão que é para tentar fazer de muitos de nós ignorantes e estúpidos...
Na Figueira - creio que também por todo o país -, nas últimas 4 décadas, desenvolveu-se, generalizou-se e consolidou-se, a partir do próprio aparelho político de governação, um complexo e poderoso modelo de gestão do território.
O interesse privado foi - e continua a ser - o motor. Ao interesse público ficou destinado o papel de assistir conformado, servil, passivo e, no limite, defensivo, ao desmantelamento da paisagem natural.
O ordenamento do território figueirense - creio que também por todo o país -, ficou refém dos interesseiros e manhosos apetites do mercado fundiário e imobiliário, o qual assenta essencialmente no valor do solo e nos exagerados direitos da propriedade.
As consequências do modelo podem ser vistas pelo resultado físico e do aspecto estético dos espaços intervencionados pelo poder nos últimos 40 anos.
A marginal oceânica é disso um triste exemplo.
A construção dos denominados Bairros de Pescadores, de carácter económico, foi uma das realizações que mais impacto teve no contexto da “obra social das pescas”, de Salazar e Tenreiro, sob o lema “para cada família um lar”.
Destinados a acolher os pescadores e as suas famílias, mediante o pagamento de rendas baixas, muitos destes bairros, senão mesmo a totalidade, foram construídos longe dos centros das localidades e longe dos próprios portos de pesca, possivelmente pela dificuldade em conseguir um terreno próximo dos locais de pesca, mas principalmente pela tentativa de “guetização” dos pescadores e suas famílias, fechando-os nas suas comunidades, evitando ao máximo o contacto com os “de terra” e a sua possível dispersão.
Foi o caso do já desaparecido Bairro dos Pescadores da Cova-Gala, cujas primeiras 16 casas foram inauguradas em 1 de Maio de 1941.
Na altura, os terrenos situados a seguir ao actual campo de futebol de S. Pedro, seguindo pela estrada que ficou soterrada – que na altura do Bairro dos Pescadores ainda não existia – para quem se dirija em direcção à praia do Cabedelo, ficavam, como convinha ao estado novo (a imagem sacada daqui demonstra-o perfeitamente), fora de portas.
Conheci o Cabedelo do Cochim e do Bairro dos Pescadores, antes do Porto de Pesca ter passado para esta margem.
Conheci o Cabedelo do campismo selvagem antes de ser possível ir lá de carro.
Conheci o Cabedelo do campismo organizado.
Nesse Cabedelo passei óptimos momentos - lá no tal “paraíso selvagem”.
Fui acompanhando o que foram fazendo ao Cabedelo, sobretudo depois de lá terem feito chegar os carros e a poluição.
Assisti à machadada final, quando a partir de 2020 fizeram o que fizeram ao Cabedelo.
Quero crer que quem fez o que fez ao Cabedelo com os milhões da Europa, nem uma fotografia conhecia do Cabedelo antigo.
Que sortudo que eu fui por ainda ter tido a possibilidade de aproveitar os últimos anos de paisagem natural no Cabedelo.
Ainda cheguei a tempo.
Esse privilégio ninguém mo vai roubar, faça o que faça no futuro ao Cabedelo.
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