quinta-feira, 30 de junho de 2022

«Os postais do Luís Osório são verdadeiros despertar de consciências!»

"Os auxiliares de ação médica não são lixo

1.
Passou despercebido um encontro importante, comovente e espero que decisivo.
Foi há umas semanas que a Associação Portuguesa dos Técnicos Auxiliares de Saúde, reuniu mais de 400 profissionais no seu primeiro encontro nacional.
Um auditório na Covilhã esteve cheio de gente que de lá saiu com esperança de ainda ser testemunha do dia em que a sua profissão será reconhecida como carreira.
Muitas pessoas saíram de lágrimas nos olhos.
Por que… sabem… aquelas mulheres (maioritariamente mulheres) e aqueles homens passaram a vida a ser vistos como menores ou invisíveis, gente que faz o que ninguém quer fazer, gente que está sempre disponível para o que é necessário que seja feito, gente que limpa as camas, que muda as fraldas, que são o primeiro ouvido que escuta, a primeira mão que ampara, os primeiros olhos que veem.
2.
Está a correr no site da associação uma recolha de assinaturas para levar uma petição aos deputados. Para entregar ao parlamento uma proposta que, de uma vez por todas, os dignifique e os respeite.
Não são médicos.
Não são enfermeiros.
Mas bolas.
São as auxiliares que estão na linha antes da primeira linha.
São elas que avançam antes do primeiro avançar.
Foram elas que mais se infetaram durante a pandemia, mas ao contrário dos médicos e dos enfermeiros ninguém sabe quantos auxiliares adoeceram – como se não existissem.
3.
Muito bonito que se tenham podido encontrar para discutir sobre as suas coisas, os seus problemas, as suas ambições.
Muito bonito terem-se podido sentar um bocadinho para ouvirem falar do que são.
Muito bonito terem entrado num lugar onde lhes abriram a porta e lhes ofereceram um cartão que puseram ao peito como os médicos e enfermeiros nos seus congressos.
4.
Sei que aplaudiram a secretária de Estado da Saúde que teve a gentileza de enviar uma comunicação em vídeo.
Mas não deviam ter aplaudido.
Deveriam ter exigido que a comunicação fosse feita pela ministra e no palco.
Teria sido justo.
Mulheres e homens que ganham praticamente o salário mínimo.
Mulheres e homens que mudam as camas quando algum doente morre.
Que desinfetam as paredes e lavam os mais frágeis.
Que dão o almoço e o jantar aos que não conseguem de outra maneira.
E elas, essas mulheres coragem, que tornam a casa extenuadas, que regressam cambaleantes num transporte público que as carrega de volta às periferias onde, assim que chegam, têm de arrumar, fazer a comida e tratar de tudo o resto.
5.
Não esqueço de onde vem uma parte de mim.
Não esqueço a minha avó materna sempre agarrada a uma máquina de fazer soutiens.
Sei o que é o sacrifício.
Por isso, este postal é para a minha gente.
Gente que merece ser reconhecida e apoiada.
Porque elas são sempre as que nos abrem a porta quando tocamos para entrar.
São sempre elas que vemos quando estamos desamparados.
Hoje era só isto.
Reduz-se a uma palavra este postal.
Obrigado."

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue todos podem comentar...
Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas.
O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor.
No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM.
Obrigado pela sua colaboração.