Na Figueira, há muito que está aberta a discussão sobre a qualidade dos políticos e das políticas implementadas no concelho há dezenas de anos.
É uma discussão interessante. Na minha opinião, fácil de explicar: a falta de qualidade dos políticos e das políticas que atiraram o concelho para onde sabemos que está, é natural - e, se calhar, não podia ser de outra maneira. Os políticos na Figueira têm sido, no geral, maus. Mas isso não reflecte a realidade da sociedade figueirense? Ou a excelência é a regra da sociedade figueirense e a actividade política a excepção?
Foto Pedro Agostinho Cruz, via Dez&10 |
Carlos Monteiro, presidente de câmara por sucessão até Setembro passado, actual vereador e presidente da Concelhia do PS, deu na passada segunda-feira uma entrevista ao programa Dez&10.
Recomendo a sua visualização por toda a gente. É uma coisa absolutamente imperdível.
Questionado se está disponível para ser candidato do partido nas Eleições Autárquicas de 2025, disse que devem surgir “novos protagonistas”. Contudo sublinhou: a renovação, “não tem de ser com gente mais nova, mas qualquer um dos vereadores [do PS] pode ambicionar ter funções importantes no concelho. São pessoas competentíssimas”.
A questão do convite para o porto que (ainda) não chegou perturbou-o nitidamente.
Pedro Santana Lopes, em declarações recentes ao DIÁRIO AS BEIRAS, admitiu que conversou com o ministro Pedro Nuno Santos sobre a necessidade de haver pelo menos um elemento figueirense na administração do Porto Comercial da Figueira da Foz, tendo sugerido, entre outros, o nome de Carlos Monteiro.
No PS figueirense (e na sociedade em geral também), porém, há quem não encare bem a possibilidade de o líder local do partido vir a ser administrador do porto comercial e manter o mandato de vereador. Ainda por cima, por ter sido sugerido pelo presidente da câmara.
Questionado sobre se, caso seja convidado, acumulará os dois cargos, Carlos Monteiro afirmou: “se for convidado, a ver vamos o que vai acontecer”.
O problema de Carlos Monteiro não é o jornalismo figueirense (está no mesmo lugar onde sempre esteve: quem mudou foi a perspectiva interessada e interesseira de Carlos Monteiro: da situação passou à oposição...), nem personagens insignificantes que ele teima em valorizar (pela parte que me cabe, muito obrigadinho): o problema de Carlos Monteiro é ele mesmo.
O problema dos figueirenses é outro. Têm sido eles mesmo, por terem promovido a escolha da mediocridade para gerir politicamente o concelho.
A carreira política, como é sabido, não promove o mérito e não atrai a qualidade.
Mas isto pode ser tudo menos uma novidade: quem leu o Eça sabe que conta que em algumas casas da burguesia os políticos não eram recebidos porque as senhoras tinham nojo.
Confesso: não estou preocupado com o alegado controlo que o poder, na opinião do entrevistado, exerce na Figueira sobre a generalidade da comunicação social. Convém não esquecer: de todas as vezes em que houve uma tentativa de asfixia noticiosa (por parte do poder) as coisas não acabaram nada bem para os putativos golpistas.
Carlos Monteiro, apenas com 2 anos como presidente de câmara, ainda estava genericamente fresquinho e em estado de graça junto da comunicação social local quando caiu.
Serve isto apenas para sublinhar que existe uma correlação directa entre o nível do descontentamento popular e o desfoque da realidade publicada. Quanto maior for a pressão exercida pelo poder, quanto maior for a distância entre o que o povo sente e vê e o que se lê na comunicação social, mais rápida e dolorosa será a mudança, como se está a comprovar em Junho de 2022, na Figueira, nove meses depois da estrondosa queda de Carlos Monteiro e a desmontagem lenta, mas eficaz, que está a ser levada a cabo da máquina política montada pelo PS e dos poderosos interesses que gravitaram em seu redor.
Alguém gosta de ser enganado ou manipulado?
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