Os amigos do "respeitinho"
Patrícia Duarte, Directora-adjunta do Região de Leiria |
A censura acompanhou os 48 anos de
Estado Novo. Proibiu parcial ou totalmente um número infindável de notícias,
condicionou o pensamento, impediu o
debate, coartou as liberdades de reunião,
associação e expressão.
A censura funcionava à margem dos
tribunais, mas tinha o poder de mandar
prender. Era um instrumento poderosíssimo ao serviço do regime, eficaz no objetivo de impor uma leitura da realidade
que não existia.
Hoje, esta censura não existe em
Portugal, mas existe noutros pontos do
globo. Pense-se na Rússia e veja-se como
é possível, sem liberdade de imprensa,
construir uma realidade paralela e fazer
um povo acreditar nela.
Hoje não existe censura em Portugal,
o que não quer dizer que não existam
muitas tentativas de restringir a liberdade. A Internet a isso convida ao ser terreno fértil para a mentira e manipulação.
A Internet, sem a qual as democracias já
não vivem, é um espaço pouco democrático. E, embora pareça, também não é
seguro nem livre.
A Internet não gosta que se pense, que
se perscrute e desmonte a complexidade
do que nos rodeia. É um espaço onde se
dão bem os “amigos do respeitinho”, que
engolem à velocidade de um clique quem
pensa diferente.
Hoje não existe censura em Portugal, mas existem muitos aspirantes a
censores, empenhados na construção
de realidades paralelas. Não encontrariam na Internet o campo ideal para a
sua empreitada se cada um de nós não
abdicasse do seu quinhão de pensamento. Mas tudo seria pior se não houvesse
liberdade de imprensa.
Já não existe censura em Portugal,
mas afirma-se demasiadas vezes que
sim. E acusam-se os jornais de serem
arautos dessa nova ordem censória.
Na passada terça-feira, 3 de maio,
assinalou-se o Dia da Liberdade de
Imprensa. Este jornal não foi visado pela
censura. Muitas das notícias são incómodas e há artigos inconvenientes, mas
o leitor tem o direito de saber. Para ser
autónomo, livre, capaz de pensar por si e
de se defender dos abusos de poder."
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