António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
terça-feira, 15 de março de 2022
Aos 73 anos morreu Jorge Silva Melo, "figura maior do teatro contemporâneo português"
Trecho sacado de uma entrevista de vida com o encenador e autor agora falecido, publicada em junho de 2017 pela Revista Visão."...sinto-me perdido em Lisboa. Cada vez mais, vivo fechado num bairro que vai do Largo do Rato ao Jardim da Estrela, os lugares onde vivo e trabalho mais. Na cidade, sinto-me desgovernado, não sei onde comprar coisas, que lojas frequentar, aqui no Chiado nem sei onde comer uma refeição ligeira sem ser nas multinacionais ou nas nacionais imperialistas como a Padaria Portuguesa… Estou muito desorientado. Mas esta autêntica revolução vai acabar, claro, não se pode continuar sempre numa mudança permanente. Espero ainda saber utilizar uma Lisboa que me está a fugir… Há uns meses fui a um bairro que não costumo frequentar, Alcântara, e lembro-me de pensar “olha que agradável isto está”, havia tasquinhas, pessoas na rua a conversar e a comer caracóis… Se calhar, é nas margens daquilo que foi o centro que Lisboa está hoje a renascer."
Sem comentários:
Enviar um comentário
Neste blogue todos podem comentar...
Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas.
O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor.
No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM.
Obrigado pela sua colaboração.