19 de dezembro de 2021
Rodrigo de Freitas, aos 85 anos, num exercício de memória enquanto esta responde.
Rodrigo de Freitas, aos 85 anos, num exercício de memória enquanto esta responde.
1 – Não é possível esquecer! Não é possível ignorar! Torna-se imperioso e inadiável lembrar aqueles da sua geração, mas sobretudo os jovens de hoje, detentores do futuro. Viver, lutar, enfrentar 48 anos duma ditadura fascista salazarista, imposta ao povo português. Para que conste sobre José Dias Coelho: Nasceu em Pinhel em 19 de Junho de 1923. Depois de ter passado por várias escolas e instituições, frequentou com sua companheira Margarida Tengarinha a Escola Superior de Belas Artes na área de escultura, sendo ambos expulsos e impedidos de ingressar em qualquer outro estabelecimento de ensino. Foram demitidos de professores das escolas onde lecionavam. Era corrente em escolas superiores e universidades assim suceder a quem lutava pelos seus ideais, pela liberdade, pela igualdade colectiva, contra o obscurantismo e miséria da grande maioria dos portugueses.
2 – “A MORTE SAIU Á RUA”
Eram cerca das 18h30 de 19 de Dezembro de 1961, quando José Dias Coelho descia a
Rua do Lusíadas para a Rua da Creche, Largo de Stº Amaro, Lisboa. De um carro saltaram
vários indivíduos que o perseguiam. Agarraram-no, encostaram-no à parede e deram-lhe voz de prisão. Resistiu e gritou “É A PIDE! SOU COMUNISTA!”. Foram as suas últimas
palavras. Um dos esbirros da PIDE de pistola na mão deu dois tiros, um deles à queima-roupa. Tombou encostado à parede. Momentos depois os esbirros que o agarravam
meteram-no num carro e rapidamente arrancaram… testemunhas viram-no cair…
Eram
19 horas em todos os relógios…!
3 – Cerca das 20 horas dois indivíduos deixam o corpo moribundo no hospital da CUF.
Tiveram que se identificar. Tratava-se de agentes da PIDE da brigada de José Gonçalves.
4 – No Instituto de Medicina Legal de Lisboa, onde foi autopsiado em 23 de Dezembro
de 1961, os peritos concluíram que a causa de morte foi “um tiro disparado no peito à
queima-roupa com intenção de matar…”
Tratava-se de um crime politico. Os nomes dos
agentes e do responsável dos tiros, vieram a saber-se, após o 25 de abril de 1974,
quando na sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso, começou a funcionar a
Comissão de Extinção da PIDE, sob a orientação da Marinha Portuguesas.
5 – DO TRIBUNAL MILITAR DE STª CLARA À FARSA DO JULGAMENTO DOS CARRASCOS
QUE ASSASSINARAM JOSÉ DIAS COELHO.
Em Janeiro de 1967, 16 anos depois do crime realizou-se o julgamento com juízes da
composição mais reacionária do corpo da justiça de Salazar, vindo à memória os juízes
dos tribunais plenários sendo escolhidos a dedo pelo governo e os presidentes
escolhidos pelo ministro da justiça.
A estes “juízes“ políticos, Aquilino Ribeiro, chamou
prostibutários, longe de prever que após o 25 de Abril de 1974 pairaria no ar de alguns
tribunais o fantasma de António Spínola, nomeado presidente da Junta de Salvação
Nacional, instalada no Palácio de Belém. Spínola tudo fez para que a comissão de
extinção da PIDE/DGS não fosse criada e pudesse desempenhar as suas funções com
isenção e verdade… Assim se revelou mais uma vez os “caracteres” e intenções de
Spínola, concretizadas com golpes, ataques e traições a tudo o que o programa do MFA
estava a levar à prática. É esta iminente figura que é louvado a Marechal, dado como
“pai” da democracia. Mas o tempo e a história acabarão por colocar tal marechal na
merecida prateleira do lixo tóxico.
Voltando ao julgamento, após a leitura da sentença, que absolveu os Pides, as pessoas
que assistiram gritaram “Assassinos! Assassinos!”, gerando-se grande confusão no
tribunal. Terminaria a saída da assistência indignada, com alas de Pides na escadaria do
tribunal de Stª Clara, insultando provocatoriamente Margarida Tengarinha e sua
cunhada Maria Adelaide com palavrões dos mais soezes, reles e sórdidos.
Assim, a sentença vergonhosa proferida por juízes reacionários o permitira.
Ainda sob estes acontecimentos, José-Augusto França, historiador e critico de arte
escreveu um artigo no DL em 4 de Fevereiro de 1977, indignado, dedicado a José Dias
Coelho, com o titulo, “O preço da vida de um escultor”.
Todo este dramático acontecimento, terá, sempre, como canção e música “A morte saiu
à rua” que José Afonso dedicou a José Dias Coelho, num acto de coragem e risco,
perpetuando a sua acção política, pela paz, pelos seus ideais, a sua corajosa militância,
a sua coragem, a sua sensibilidade artística, tudo pela liberdade e felicidade do povo do
seu país, e dos povos de todo o mundo, sujeitos às mais indignas formas de opressão e
repressão.
Recordo, mais uma vez, José Dias Coelho, não deixando de registar os testemunhos
vividos e escritos de Margarida Tengarinha, de Manuel Loff, entre muitos outros.
E um apelo faço às novas gerações para meditar, estudar, divulgar, como foi penoso e arriscado conquistar a liberdade e o sonho que comanda A VIDA.
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