Em finais dos 60 do século passado, ao ir pela muralha até ao Cabedelo, mais precisamente para a Praia dos Blocos velhos, a norte da Gala, mais ou menos onde agora está a portaria do Porto de Pesca, tínhamos de passar pela ponte do Buquete...
Um dia, ainda eu era adolescente, o quer dizer que já lá vão muitos anos, depois de fazer esse percurso, que deveria ter dois quilómetros, sentei-me no areal do deserto que então era o Cabedelo, para apreciar o pôr-do-sol.
A praia estava vazia. Os pouco veraneantes que então frequentavam o Cabedelo já tinham abalado. Naquele fim de tarde dum dia 8 de Agosto, algures pelo final da década de 60 do século passado, talvez 1969, o vento frio e algo desagradável não conseguia levantar as areias, consistentes como açúcar mascavado, que ficaram à mostra pela baixa-mar.
De repente, o horizonte tornou-se carregado e opaco. A linha que, no horizonte, separa o céu e o mar ficou invisível.
Não consegui prever o que estava para acontecer. Também não demorou muito para ficar a saber: de repente começou a cair do céu uma chuva quente que me apanhou em cheio. Naquele tempo o Cabedelo era um deserto. Fiquei encharcado até aos ossos.
Há coisas que, não desejando que se repitam, para que se não percam definitivamente da nossa memória, convém que fiquem escritas.
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