Está a chegar o calor. Em breve, na televisão teremos a tragédia dos fogos, o espetáculo das chamas, as casas carbonizadas, as árvores queimadas, os carros ardidos e o desespero das pessoas.
A tragédia fascina, devora, faz-nos sentir parte do que
quer que seja que está a acontecer. Mexe connosco. E dá audiências nas
televisões e vende jornais.
No entanto, para lá das reportagens,
do repórter que sofreu imenso e teve de voltar para trás por causa das
"chamas enormes", para lá de tudo isso há a tragédia individual, o
desastre que é para cada uma daquelas pessoas aquele fogo. Só aquele.
Já senti isso de perto. O crepitar violento que se vai
aproximando, o fumo, não conseguir ver nada, mas tentar adivinhar o que ficou
destruído, o sentimento de perder para sempre aquele espaço que nos era
familiar, olhar para o lugar de sempre e nunca mais ver o mesmo. É horrível,
faz-nos sentir medo e pânico. Perder, ou
temer perder, tudo no rasto do incêndio.
No Cabedelo o que está a acontecer tem muito de semelhante com isto.
A desgraça verdadeira, porém, não é o artigo de jornal
ou a peça de televisão, é a tragédia individual, a impotência – a sensação da
nossa pequenez e inutilidade perante as forças - da natureza e outras.
Há sempre um mal maior, haverá sempre outro mal, mas perder - ou temer perder - tudo sem poder contrariar, sem haver nada que se possa fazer, é essa a história de cada uma das vítimas dos incêndios como o do Cabedelo. Sim o Cabedelo foi queimado.
O resto - as culpas, as falhas, os desleixos, as críticas - o resto é importante, muito importante, mas é só para os outros. Para nós, quem perde uma árvore, um terreno, uma casa, um cabedelo, ou um jardim como o da foto, isso é tudo. E os figueirenses podiam ter feito tanta coisa...
Este jardim está a arder. Não sentem o crepitar violento? Ou já não conseguem ver nada por causa do fumo?
Gostei.
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