"Caro Dr. Carlos Monteiro
Foi com espanto e tristeza que tive conhecimento da aprovação pela CMFF das alterações ao edifício da Piscina Praia e Estalagem, tendo em vista a sua rentabilização como unidade hoteleira.
Como figueirense orgulhoso da obra desenhada pelo meu pai, Arquiteto José Isaías Cardoso, não posso deixar de lhe transmitir o meu desgosto pelo destino, que antevejo inevitável, de banalização arquitetónica de um edifício classificado em fevereiro de 2002 como imóvel de interesse público.
Não questiono a legalidade ou legitimidade do processo, que sei ter obtido o aval de entidades públicas supostamente responsáveis pela preservação do património classificado. Mas contesto a opção, que a CMFF promoveu e aceitou, de alteração substancial do desenho original de um edifício considerado pelos especialistas como exemplar marcante da arquitetura modernista da década de 1950, uma peça arquitetónica que é também exemplo raro de equipamento balnear público no contexto português da época.
A pretexto da degradação efetiva a que o edifício foi sujeito nos últimos 25 anos – de que é exemplo marcante a remoção da icónica prancha de saltos e a redução do comprimento do tanque – a CMFF optou pelo mal menor de aceitar um projeto de alterações que reabilita o edifício à custa da degradação das razões que justificaram a sua classificação como imóvel de interesse público.
Teria sido possível outra opção? Certamente que sim, se fosse mais elevado o nível de exigência camarária, se prioridade fosse dada à valorização de um bem arquitetónico público com utilização ajustada a novas formas de lazer, contrariando a inevitabilidade de uma concessão hoteleira de longa duração.
O município da Figueira não dispõe de um património imóvel classificado tão vasto que lhe permita dar-se ao luxo de prescindir de um dos edifícios da cidade que mereceram a menção de interesse público. É essa marca única, que o edifício da Piscina Praia e Estalagem representa, que poderia ter sido valorizada como ativo patrimonial e cultural inestimável, que tantas gerações de figueirenses e veraneantes gostariam de ver perpetuado no futuro. Não como memória de um passado balnear que já não existe. Mas como símbolo perene e instrumento mobilizador de novos públicos, que sabem apreciar o valor de objetos arquitetónicos singulares, e por isso classificados.
Estou certo que compreenderá a motivação, também familiar, da carta aberta que lhe dirijo. Esperançado numa eventual reversão deste processo, ficarei atento às soluções de conservação e valorização que a CMFF venha a encontrar e que o conjunto arquitetónico da Piscina Praia e Estalagem merece, dado o seu estatuto de imóvel classificado de interesse público.
Com toda a estima, José Luís Cardoso"
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