"Entre meados de 1975 e Abril de 1977, o país assistiu a quase 600 atentados e acções violentas da extrema-direita. Operacionais do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), liderado por António de Spínola, fizeram ir pelos ares automóveis, casas e escritórios de quem era conotado com a esquerda. Multiplicavam-se os ataques a sedes do PCP num país profundamente dividido, à beira da guerra civil.
Ramiro Moreira chegou a ter o número sete no cartão de militante do Partido Popular Democrático - que mais tarde passaria a PSD -, mas as suas actividades desagradavam a Francisco Sá Carneiro. "Uma coisa era fazer segurança aos dirigentes e envolver-se em escaramuças. Mas colocar bombas, participar em atentados e manter-se ligado ao PPD tornava a militância insustentável e reprovável" para o fundador do partido, relata Miguel Carvalho. Num dia de Novembro de 1975, chamou o operacional a sua casa e disse-lhe: "Ou sais do partido ou expulso-te."
Sá Carneiro, sublinha o jornalista, "viu mais além do que a simples táctica" e percebeu que, "tanto quanto ele pudesse, o partido tinha de entrar numa linha que não resvalasse para caminhos que ele condenava". Um exemplo, diz o autor de "Quando Portugal Ardeu", que o PS podia ter seguido. Mas os socialistas, aponta, "lançaram fósforos em fogueiras que já ardiam".
"O PS teve um grau de envolvimento muito grande com a rede bombista e com os seus objectivos. Achou, a determinada altura, que valia tudo para combater o PCP e isso significou, em certo momento, uma cumplicidade com o radicalismo de direita", afirma Miguel Carvalho, explicando que essa foi uma das grandes surpresas da sua investigação.
Num dos seus raides da Póvoa para o Porto, Ramiro Moreira tinha colocado uma série de bombas debaixo de carros de militantes de esquerda, mas uma não explodiu. Intrigado, pois como operacional orgulhoso que era não admitia que uma bomba sua não rebentasse, pegou no engenho e continuou o seu caminho. Perto da saída para a Maia, abriu o vidro e disse: "Ora vamos ver se esta merda rebenta ou não" e atirou a bomba, fazendo explodir um barracão do PPD.
O episódio com o mais activo operacional da rede bombista, que na altura desconcertou a Polícia Judiciária (PJ) porque "só poderia ser da autoria dos comunistas", é uma das histórias da violência política do pós-25 de Abril, relatada pelo jornalista Miguel Carvalho no livro "Quando Portugal Ardeu".
Sem comentários:
Enviar um comentário
Neste blogue todos podem comentar...
Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas.
O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor.
No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM.
Obrigado pela sua colaboração.