Ontem, devido ao confinamento, vi muita televisão. Todos os canais falaram muito - e justamente - de Carlos do Carmo.
Porém, ao ver toda esta farturnha, não pude deixar de recuar 38 anos.
Carlos do Carmo esteve na Figueira para participar em 1983, na Festa de Homenagem que, por iniciativa do semanário barca nova, foi prestada a Joaquim Namorado.
O espectáculo (SARAU CULTURAL) foi realizado no Casino na noite de 28 de Janeiro desse já longínquo ano.
Na altura, era eu um aprendiz de jornalista. Na qualidade de chefe de redacção do barca nova estive nessa tarde de um sábado, 28 de Janeiro de 1983, a acompanhar o ensaio. Carlos do Carmo, já então uma estrela do panorama artístico português, que não me conhecia de lado nenhum, foi de um trato e de uma amabilidade que jamais esqueci.
Carlos do Carmo, antes do 25 de Abril já cantava fado, mas não o do choradinho e o da lamechice. Na altura, Carlos do Carmo estava a "sentir o peso do carimbo comunista", pois era presença em iniciativas realizadas pelo PCP, nomeadamente a Festa do Avante.
Esteve cinco anos sem cantar na RTP, então o único canal de televisão em Portugal.
Lembro-me de ter a ousadia de naquela tarde de 28 de Janeiro de 1983 lhe ter falado nisso.
Calmamente, respondeu: "Estou habituado a perder, normalmente voto no PC e sou do Belenenses."
Muitos anos mais tarde, li numa entrevista, ao ser questionado sobre esse período da sua vida:
"Foi a altura em que comecei a cantar no estrangeiro. Se me perguntar se me lembro das pessoas que me fizeram isso, lembro-me. A algumas delas até lhes falo muito bem. Mas coitadas, fazem dó".
Já agora: sabiam que o fado Por morrer uma Andorinha era, para os velhos presos comunistas, uma espécie de hino entre eles?
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