Depois dos Açores, tornou-se visível que no futuro teremos uma recomposição partidária.
Uma análise ligeira dos resultados eleitorais, mostra que o crescimento do Chega provém essencialmente do eleitorado da direita tradicional, da abstenção e, provavelmente, também de jovens que votaram pela primeira vez.
As transferências de voto provenientes do PS e dos partidos da esquerda serão marginais e muito localizadas.
Neste momento, as sondagens mostram que o PS continua a ter muito apoio junto da população.
Portanto, a meu ver, dificilmente a curto prazo a direita terá acesso ao governo.
O Chega trouxe um problema ao BE e ao PCP: digamos assim, vai obrigá-los a apoiar o PS até ao fim da legislatura, mesmo que não gostem do resultado das negociações.
Se, e quando, o PS gerar desencanto e frustração numa parte significativa do seu eleitorado - e isso pode acontecer, por exemplo, em resultado da gestão da crise actual e das políticas que nos forem exigidas pela UE como condição para o uso do Fundo de Recuperação, então poderá ocorrer uma transferência de voto do PS para o PSD.
Nesse dia, teremos aquilo que André Ventura anunciou na noite das presidenciais: governo do PSD + Chega.
As eleições presidenciais mostraram que uma parte significativa da direita virou as costas ao PSD e ao CDS, procurando alternativas mais liberais ou mais radicais e musculadas.
A receita já é antiga: "menos Estado na economia e menos impostos", uns. Outros, "querem isso, mas com mais molho, isto é com porrada e menos liberdades (é uma questão de grau e às vezes de tempo, como se viu no Chile...).
Este, é um momento delicado e perigoso: há gente que se sente abandonada com as políticas neoliberais implementadas pelo PSD e PS ao longo dos anos. Não vê outra alternativa que não seja o Chega - que é isto tudo que tivemos nos últimos mais de 30 anos, numa versão pior: mais molho, isto é com porrada e menos liberdades.
As esquerdas em Portugal e na Europa têm um enorme desafio pela frente: serem alternativa ao caminho que fizemos até aqui, para ultrapassar os obstáculos que impedem o nosso desenvolvimento.
Precisa-se um projecto mobilizador de esquerda, que capte uma parte importante do voto dos desiludidos com a sociedade que esta democracia criou.
Isso, exige diálogo unitário e trabalho militante de base.
Mas onde pára aquela militância que quem viveu os anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, protagonizou em partidos como o MDP/CDE, o PCP e o PS?
Na Gala, logo a seguir ao 25 de Abril, o MDP/CDE, partido de que fui miltante, alfabetizou dezenas de pessoas idosas. E como foi importante para esses idosos, muitos com família no estrageiro, terem aprendido a ler para lerem as cartas que o filhos lhes mandavam dos países onde estavam emigrados sem terem de expôr a sua vida pessoal!..
Quem leu até aqui, pode pensar que isto são «estórias» do tempo em que os animais falavam. Infelizmente, porém, decorridos quase 47 anos, a iliteracia continua roer a nossa Liberdade, a diminuir-nos como Povo e a afectar profundamente a nossa Democracia e a nossa rentabilidade.
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