sexta-feira, 26 de junho de 2020

O erro de acreditar na própria propaganda

"Os pobres que vivem em alguns bairros da periferia de Lisboa, que já eram alvo de discriminação, sofrem agora com o estigma que na Idade Média era reservado aos leprosos e aos pestilentos. São o bode expiatório perfeito para alimentar o nosso mecanismo de defesa coletivo, tal como antes o foram os nortenhos a quem um triste oráculo televisivo atribuía pouca educação.

De resto, assistindo a algumas notícias que passam nas televisões, ficamos a saber que existem ajuntamentos ‘bons’, protagonizados por gente fina e aparentemente imune à pandemia, a quem a DGS atribui um selo de sanidade. E depois existem os ajuntamentos ‘maus’, que reúnem aquelas pessoas que não têm militâncias ou ativismos. Tal como existem países maus, governados por loucos que vomitam disparates e onde as pessoas caem como tordos, em contraste com outros onde – milagre – parece que ninguém morre.

Na verdade, a Covid-19 é uma doença tão contagiosa como democrática, que não olha a classes sociais, escolaridade, ideologias ou profissões. Mesmo tendo todos os cuidados, qualquer pessoa corre o risco de ser contaminada. Basta sair à rua. Não acontece apenas aos outros e não é crível que, numa metrópole como a Grande Lisboa, onde milhões de pessoas se deslocam diariamente entre diferentes autarquias, seja possível compartimentar o vírus em duas dezenas de freguesias. É uma pandemia e não existem soluções infalíveis, fáceis ou indolores."
Filipe Alves

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