Via jornal i |
O mesmo acontece com a multiplicação dos prémios literários, instituídos por editoras, bancos, fundações, câmaras municipais, juntas de freguesias, etc. O que pensa deles?
Não saímos de Camões. Camões morre em 1580 e vai a enterrar num lençol que se vai buscar a casa do Conde de Vimioso. E os Portugueses ficaram, desde então, com o trauma de que pode haver por aí mais escritores geniais a viverem mal. Não queremos repetir a ingratidão do século XVI, o que está bem. Pensa-se então que o melhor é instituir muitos prémios para que os escritores actuais se sintam agasalhados. Para que tenham todos, pelo menos, a oportunidade de ter o seu lençol para descer à terra. Mas a constituição dos júris também me parece reveladora. Vemos júris de prémios constituídos por escritores que se premeiam uns aos outros. Não significa isto que não haja escritores com capacidade de escrutínio. Muito pelo contrário. Mas um escritor é uma figura pública, também ele publica livros e é candidato a prémios. É por isso mais difícil acreditar na sua isenção.
Voltamos a Camões: [os prémios] “Melhor é merecê-los sem os ter, / Que possuí-los sem os merecer”
As entidades que promovem os prémios deviam talvez entender-se entre si. A instituição de um prémio anual parte do princípio de que todos os anos são publicados livros de grande qualidade, que merecem reconhecimento. Ora isso pode não acontecer. Não deveríamos banalizar os prémios. Tenho a ideia de que antes eram iniciativas mais raras e exigentes.
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