TURISMO
Foto de Pedro Agostinho Cruz, via Delito de Opinião |
"A criação da Comissão Municipal de Turismo continua na gaveta. Será desta que vai avançar?"
Resposta de Carlos Monteiro, presidente da câmara e vereador do pelouro da autarquia figueirense:
"Não tenho presente o dossiê, mas tenho presente que houve esse compromisso de João Ataíde e que será cumprido em breve. Vamos dar-lhe prioridade."
Nota de rodapé.
Nem era necessário comentar: na resposta, ficou claro que o novo presidente da câmara e vereador do Turismo não conhece a matéria.
Carlos Monteiro é vereador há 10 anos. Sabe que a actividade económica que passou a liderar - o turismo - é importantíssima para a Figueira.
Perante o que li, é com toda a franqueza que digo o seguinte: duvido que vossa excelência, para além de ter mostrado um dia destes disponibilidade para discutir Turismo comigo, conheça de facto, na óptica do orgão decisor, quais são os verdadeiros problemas do turismo na Figueira.
A câmara da Figueira, nos últimos 40 anos, nunca conseguiu resolver os problemas da actividade, apenas contribuíu para os agravar. Considerada, em tempos, a mais bonita praia de Portugal ("Não tem outro remédio, senão vir à Figueira quem quiser ver a mais linda praia de Portugal!” Esta frase foi escrita por Ramalho Ortigão, em finais do século XIX) a partir da década de 60, quando os turistas ingleses abastados descobriram o Algarve, estâncias balneares como a Figueira perderam importância.
Na altura, a Figueira tinha uma actividade pujante nas pescas, nos têxteis, na indústria conserveira, exploração das salinas, estaleiros, no vidro. Foi por essa altura que surgiu a primeira fábrica de pasta de papel. Principalmente no interior do concelho, a agricultura e a pecuária ajudavam a compor o orçamento familiar.
Aos poucos a Figueira foi percebendo que o turismo era uma actividade com retorno económico. Com base nesta percepção tentou adaptar-se. Aqui foi cometido o primeiro erro histórico: deixaram que fosse o turismo a ditar o desenvolvimento e não o desenvolvimento da região a potenciar a actividade turística. Aos poucos foram copiando alguns dos piores exemplos em matéria de urbanismo e ordenamento do território, aumentando a capacidade hoteleira e de restauração, mas começando a diminuir os padrões de qualidade que caracterizaram a região nos anos 40 e 50. Foi aí que começou a transformação na urbe sem qualidade e esteticamente reprovável em que nos tornámos. Que este executivo está a agravar, com as obras em Buarcos e a trapalhada que estão a levar a cabo no Cabedelo.
Foi na década de 80 que se cometeram os maiores atentados à sustentabilidade do meio ambiente. A Torre Jota Pimenta e o edifício Atlântico, são disso exemplo. Depois, há uns anos, para compor o ramalhete, veio o Galante.
Se, por um lado, recebemos milhares de turistas em determinados períodos, por outro lado, não criámos as infra estruturas de base consentâneas com uma actividade motor de toda uma região. O termo sazonalidade entra no dia a dia de quem vive de e para o turismo na Figueira da Foz.
Em 1988, no Algarve, deu-se uma viragem na forma de encarar o turismo e aquilo que ele representa para a região, sobretudo o turista português. Outrora claramente explorado e com distinção de preços para o mesmo serviço, o turista português começou a ser acarinhado na região. A razão deveu-se à queda dos mercados alemães e inglês devido à desvalorização do marco e da libra inglesa.
Foi mais um factor de penalização para a Figueira. Começam a enraizar-se outras épocas de afluxo ao Algarve. Ao mês de Agosto, juntaram-se a Páscoa, as pontes de Junho e a passagem de ano.
Ao turismo na Figueira, resta-lhe funcionar paralelamente com as outras actividades económicas. A Figueira é, hoje, depois do consulado de 10 anos do presidente João Ataíde, uma urbe desorganizada e carenciada ambientalmente, sem sustentabilidade e com fracas noções de estratégia de desenvolvimento.
O Turismo figueirense sofre uma concorrência feroz de mercados mais atraentes, que recebem os visitantes que antes preferiam países hoje marcados pelo terrorismo.
Pensar o turismo é definir se queremos continuar a apostar no turismo da forma que temos feito até aqui, ou se queremos introduzir algo inovador - planeamento.
A autarquia da Figueira – responsável pelo desordenamento do território concelhio - não pode continuar a querer equilibrar o orçamento municipal através da cobrança do IMI, continuando a permitir construções em altura, onde no respectivos PDM constava áreas para moradias ou espaços verdes. Não é admissível que a Região de Turismo do Centro continue a ser um mero instrumento dos interesses do sector, é necessário que seja ela a definir algumas linhas do sector. O primeiro passo deveria ser um levantamento da qualidade e da quantidade da oferta turística existente. Ao garantir a produção de produtos ou serviços para o turismo, se os mesmos forem de qualidade serão certamente utilizados por consumidores fora da região e durante boa parte do ano.
O produto turístico que a Figueira tem para vender não é único no mercado turístico: o sol nasce em todo o lado, mas é exactamente aquilo que a Figueira for capaz de oferecer para além do sol que irá atrair o turista.
Seja ele o turismo de inverno ou de verão, o turismo cultural ou desportivo. Se nada for feito dentro de poucos anos o turismo na Figueira poderá colapsar.
Concordo com quase tudo escrito pelo autor do blog.
ResponderEliminarFaltaria acrescentar algo mais de premeio em vários parágrafos.
JM
Disponha. Por exemplo...
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