Pintura Cunha Rocha, via COVA GALA... entre o rio e mar |
Nessa altura, também não havia ódio virtuais, fosse no Facebook ou noutra rede social. Aliás, ainda nem sabiamos que iriam existir redes sociais.
A "conversa de café" era a realidade. No que me toca, o "café" das conversas, eram dois. Na Gala, o "Dory". Na Figueira, a "Nau".
A conversa podia ser uma manifestação de indignação, local ou nacional, futebolística ou política. Mas, não passava daí.
Eram tempos mais simples, mas também menos dados ao rancor e ao ódio. Nada escalava e muito menos atingia as proporções de hoje em dia. Na melhor das hipóteses, sei isso por experiência própria, era um contributo importante para o aperfeiçoamento e aprendizagem pessoal, através de boas e sustentadas discussões. Vendo pelo lado menos positivo, não se passava de expressões tipo esta: "oportunistas, traidores, vendidos, só querem é mamar".
Em 2019 tudo é diferente: há ódio. Há rancor. Há perseguição. Há mesquinhez.
Mas, de onde veio tudo isto?
Vivemos numa sociadade individualista, da competição e do confronto, onde o valor que fala mais alto não é a cultura: é o dinheiro, o poder, a vaidade. Não se olha a meios para atingir os fins.
O grande problema da sociedade contemporânea, a meu ver, é a falta de conhecimento, escola e vida, no que à vivência e expiriência diz respeito. E, estou a referir-me às chamadas elites políticas, ou seja, aos ex-jotinhas que pululam e inquinam tudo quanto é partido.
Para essa gente, sem passado de trabalho e de aprendizagem, tudo se resume ao imediato. Ao seu umbigo e, sobretudo, ao seu interesse pessoal.
Depois temos o Povo: o julgamento, que não é feito no local próprio, é feito na rua: "havia de haver pena de morte". Não há uma pergunta, uma reflexão. Só há vontade de agredir, de punir sem julgamento ou conhecimento de causa.
Vivemos o momento que nos é dado pelas CMTV desta vida. Depois, quando vamos a votos esquecemos tudo. E continuamos a escolher os mesmos. São todos iguais, dizemos para tranquilizar e justificar a nossa inércia, o nosso comodismo e o nosso desinteresse perante a vida: a nossa e a dos outros.
Escreveu Ruy Belo, “ninguém, no futuro, nos perdoará não termos sabido ver”. Depois, temos escolha: A escolha de ser livre.
"Vejamos, pois, e cumpramos o nosso dever falar. O nosso dever escolher. E escolher ser livre, na liberdade de querer tudo e de nada querer, na esperança contínua de que no fim os bons ganham sempre, na prática quotidiana de nos informarmos, pensarmos, termos opinião própria, evadirmo-nos da manipulação e acolhermos em alegria a vida do lado certo, do lado do bem, do lado da justiça. Na peça dentro da peça, Hamlet não prepara a sua tragédia, escolhe ser livre e vive a apoteose. Ouça, estou a falar consigo, vou continuar a falar consigo."
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