"Mãos calejadas, mas que ganham leveza a atar (remendar) as redes, como se estivessem a fazer renda, aproveitando o sol de Inverno e as “birras” do mar. A companha do “Fijou” no Portinho da Gala é composta por quatro homens, mas só o mestre deixa que o cite. «A rapaziada não gosta de ser notada», asseguram. José Mário, 78 anos, com uma vida dedicada à pesca (do bacalhau e outras), agora reformado, continua para complementar a parca reforma, com a pesca da lampreia e do sável. Mas pouco dá. «Dantes, era até Maio que pescávamos, agora não chega a dois meses, mal dá para pagar a licença. É o que faz ter os políticos errados, no sítio errado». E para piorar a situação, a época está a ser fraca. «Abriram a barragem, é só poluição, a água cheira mal e o peixe foge», lamenta. «Está bom para os políticos. Filho de pescador, é pescador, filho de político, é doutor», diz o outro companheiro, enquanto que um terceiro fala no sacrifício para dar o curso à filha, mestre em engenharia biomédica «e é carteira. É para isso que o Costa anda a chamar os jovens no estrangeiro. É a vergonha deste país», diz com alguma revolta.Com consciência ambiental, este e outros pescadores, que dizem que, enquanto estão ali, se entretêm «e não gastamos dinheiro ao Estado em medicamentos», criticam que a pesca esteja «cada vez pior», fruto «da poluição. Há muita água estagnada, o rio cheio de jacintos, os arrozais com químicos, os lixos das pocilgas a escorrer, contaminam tudo. Sem poluição tínhamos aqui uma riqueza», asseguram. O «portinho assoreado» é outro problema, pois «as embarcações espetam na lama», e a falta de portões também. «A parte da pesca devia ser isolada e assim, não havia abusos», diz José Mário."
Bela Coutinho, via Diário de Coimbra
Bela Coutinho, via Diário de Coimbra
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