segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

A anedota distrital de 2018

NOTA
-  O jornal é de 30 de Junho de 2018. Há meio ano, portanto.

Via Mário Martins

Nota de rodapé. 
Via DIÁRIO AS BEIRAS
"O Senhor Ministro do Planeamento e Infraestruturas veio referir aquilo que já todos sabíamos. Se houver aeroporto civil internacional na Região Centro será em Monte Real e ponto final. A questão que desde logo se pode pôr é: porque é que, sendo isto tão evidente para toda a gente, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra decidiu fugir para a frente e “empenhar-se a fundo” numa solução perdedora, com um estudo que, à partida, não reunia nenhuma condição de credibilidade política, económica e mediática? Não interessa falar nisso, pelo menos por agora, deixemos a resposta a essa pergunta para uma maior distância histórica. O que interessa agora é aquilo que, em meu entender, deveria ter interessado há um ano e meio atrás, ou seja, que contrapartidas deverá a Região de Coimbra — a CIMRC, já que a Câmara demonstrou, uma vez mais, a sua total incapacidade para a negociar o que quer que seja neste âmbito — debater com o Governo, de modo a que uma infraestrutura com tamanho potencial de capitalidade não se afaste defiitivamente. Quais as condições que podem transformar Monte Real num verdadeiro aeroporto internacional para a região e, simultaneamente, elevar todo o seu potencial de atractividade económica, nacional e internacional? A meu ver, essas condições são de duas ordens, simbólica e infraestrutural, e não são muitas, nem muito irrealistas. 1. Comecemos pela primeira, de ordem simbólica — o nome. Coimbra ainda é, a par com Fátima mas num universo mais amplo, a marca mais significativa da região no plano internacional, pese embora tal não ser reconhecido pelo status quo nacional e apesar dos organismos regionais — CCDRC, Região de Turismo, etc. — quase nunca o  admitirem. Mas o nome civil do futuro aeroporto não deverá nunca ignorar essa circunstância, sob pena de esbanjar à cabeça algum do seu potencial de branding internacional. E a Região de Coimbra deverá obviamente pugnar pela sua imagem além-fronteiras. A referência a Coimbra no nome do novo aeroporto deverá ser clara, embora possa eventualmente não ser exclusiva, como em tantos aeroportos por essa Europa fora. De ordem infraestrutural há muitas, a começar por aquelas que são inerentes à própria cidade de Coimbra e que deveriam estar a ser cuidadas a nível municipal, mas adiante. Referirei apenas três, todas à escala regional e todas referentes a acessibilidades. 2. Desde logo, a acessibilidade ferroviária. A linha do Oeste deveria ser remodelada e actualizada, bem como o seu obsoleto material circulante, de modo a servir a ligação entre o futuro aeroporto e as cidades de Coimbra e Figueira com fi abilidade, conforto, frequência e rapidez, por esta ordem. É claro que a nova Estação de Coimbra —se alguma vez existir — deveria ter um balcão de check-in e recolha de bagagens, tal como em algumas cidades europeias, Lausanne para o Aeroporto de Genebra por exemplo, mas isso já seria pedir demais. 3. Depois, as acessibilidades rodoviárias. Deste ponto de vista, a Figueira está muito bem servida, mas a cidade de Coimbra não. Deveria ser continuada a via rápida de Taveiro, de modo a poder ligar à A17 a sul da Figueira. A “história” da impossibilidade por causa do Paul da Arzila não passa de um embuste, de uma enorme hipocrisia. É muito mais poluente e danosa para a Reserva Natural a actual estrada municipal, altamente sobrecarregada de tráfego rodoviário, a verter quantidades imensas de óleo queimado sobre o Paul, do que um atravessamento superior em viaduto, com sistema de recolha e tratamento desses mesmos óleos. 4. Por fim, mas não menos importante, o famoso IP3. Deixemo-nos de veleidades e exijamos ao mesmo governo, ao mesmo ministro que propõe com tanta certeza o aeroporto em Leiria, uma verdadeira ligação entre as duas maiores cidades de Região Centro, Viseu e Coimbra, que não os ridículos “85% de perfi l de auto-estrada” que outra coisa não significam senão deixar de fora a parte mais perigosa do IP3 — a estrada da morte — o qual, com essa “solução”, mais perigoso ainda se tornará. Claro que assim, com uma verdadeira auto-estrada, o tal aeroporto da região fi caria também acessível a mais algumas centenas de milhar de potenciais passageiros. São estas as condições que deveriam já estar a ser negociadas. Não são irrealistas nem danosas para nenhuma das “partes”, bem pelo contrário, são proveitosas para ambas e o negócio é bom quando é assim. É claro que a esperança que alguma delas se concretize é inversamente proporcional à convicção com que escrevo estas linhas. Mas, assim sendo e se tudo se mantiver na mesma, também começa a ser muito claro aquilo que eu, por diversas vezes ao longo dos anos, tenho vindo a referir. É de uma enorme irresponsabilidade histórica, da parte das individualidades político-institucionais da cidade e da região, assobiar para o lado, escamotear a perda total de influência de Coimbra na esfera decisória nacional. Mais, já não é só da perda de influência que se trata, é quase um caso de chacota generalizada, preconceituosa, contida e disfarçada, da qual nós, os que dela nos apercebemos, não podemos deixar de nos envergonhar. O que é verdade é que, a despeito de alguns sinais corajosos de heroica resistência — a Critical Software na Baixa e outros — a decadência e a depressão colectiva começam a tomar conta do nosso quotidiano. Nada dá certo. Mas será que, deste modo, há alguma coisa que possa dar certo?"

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