domingo, 16 de setembro de 2018

SILÊNCIOS

        Há silêncios recolhidos, densos. Há silêncios
        doridos, vivos de mágoa. Há silêncios de
        espanto. Há silêncios duros, tensos. Há silêncios
        constrangidos. Há silêncios desajeitados. Tolos.
        Há silêncios de recusa. Ou de pudor. Há silêncios
        ansiosos. Há o silêncio da espera. O silêncio
        da premeditação. E o da raiva. Há o silêncio da
        ignomínia e da humilhação. Do esquecimento. Do
        desprezo. Há silêncios palpitantes. Há mil palavras
        em certos silêncios. Há o silêncio da prece. E há o
        silêncio do vazio. Há silêncios impossíveis. E há o
        silêncio procurado. O voto do silêncio. A humildade
        do silêncio. Há segredos nos silêncios. Há silêncios
        apavorados e também os há pavorosos. Mas há
        silêncios deslumbrados, intensos. Há o silêncio do
        silêncio, de onde a música brota. Há ainda o silêncio
        de quando a voz não cabe nas palavras. E há o
        silêncio que fica quando ficamos sós: humidade que
        se adentra e nos devora em silêncio.

Jorge Colaço, Crateras e cristais

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue todos podem comentar...
Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas.
O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor.
No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM.
Obrigado pela sua colaboração.