sábado, 3 de março de 2018

Pedro, o puto reguila que eu já tive dentro de mim...

"Quando comecei a escrever, ainda miúdo, diziam-me que escrever não era vida para ninguém, ser artista é muito difícil. Quando comecei a partilhar diziam-me para guardar as palavras nas gavetas, não devemos partilhar o que sentimos. Quando comecei a ter alguns seguidores havia quem me dissesse para estar quieto por não ter jeito nenhum para escrever. Agora que estou onde estou, a fazer o que faço, dizem-me que nunca chegarei onde quero chegar.  E enquanto o caminho se perpetuar, durante o curto momento que é a minha vida, continuarei a ser demovido de avançar, a ser tentado a cair na inércia: por ser difícil, por não ser suficientemente bom, por dever seguir as direcções que todos os outros apontam.
É verdade: não é fácil. Viver, escrever, amar, crescer, navegar, construir. Tudo o que nos constrói requer esforço. Porque o mundo, como existe, é uma máquina de destruir. Daí ser tão fácil nos destruirmos uns aos outros, nos desacreditarmos uns aos outros, mas tão difícil construir. O mar bate constantemente na pedra, mudando-lhe a forma, o vento arredonda-lhe as esquinas, ambos a vão transformando em areia, ao longo do tempo. Mas por mais que o tempo passe, o mar, o vento não transformarão a areia novamente em pedra. Acho que somos todos um pouco como aquela pedra, exposta aos elementos. Sabemos que no fim seremos areia, porque a realidade é perita em destruir-nos, mas, enquanto vivermos, vamos resistindo, fiéis à nossa génese, e ao nosso propósito mundano. 

Uma última imagem:
onda,
pedra,
espuma,
cidade,
azul, 
verde, 
casa,
horizonte"

Ser conterrâneo de Pedro Rodrigues, escritor, é um privilégio.

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