O António era um senhor.
Bom trabalhador, bom chefe de família, bom pai, bom vizinho e bom aldeão.
Escrevia nos jornais e falava na rádio.
Era uma voz livre e um corpo elegante, sem a barriguita proeminente e uma barba que vinha de outros tempos.
Um dia, já lá vão quase doze anos, ao senhor António, deu-lhe a mania dos blogues e foi-se a eles.
Criou um, hoje na Figueira nome escolástico, pesado e grave.
O blogue, com o tempo e como o tempo, crescia, crescia, crescia e cresceu.
Na Figueira, mais do que qualquer um dos outros.
Tornou-se o mais falado, o mais lido, o mais famoso, o mais odiado e o maior.
O António não gostou, principalmente que andem para aí a dizer que é um solitário e que só tem amigos, porque têm medo dele.
O António espera que o blogue que havia crescido mais do que ele, volte ao normal.
O António, qual marginal, voltaria a ficar contente.
Já estou a ver o António, a coçar o umbigo, e a murmurar para si: “marginal, mas não bruto”, no tom em que o outro canta “romântico, mas não trôpego”.
O António, no fundo é um danado.
Triste, é ser dos bons.
Nota de rodapé.
Qualquer semelhança entre o parodiado e a realidade é, claro está, mera ficção, não coincidência.
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