Foto Pedro Agostinho Cruz |
Um relatório do International Council for the Exploration of the Sea (ICES), organismo das Nações Unidas, que apresenta propostas sobre a exploração do mar, não é animador para a pesca da sardinha na Península Ibérica.
Um dos cinco cenários contemplados no quadro de opções para a gestão dos stocks propõe a interdição da captura da espécie em 2018. E é esta hipótese que tem sido realçada pelos órgãos de comunicação social dos dois países vizinhos.
Por sua a vez, a Comissão Europeia não proíbe a pesca da sardinha, mas recomenda às autoridades portuguesas que encarem com seriedade as quebras nos "stocks" da espécie devidas à sobrepesca e ao aumento da poluição.
“O facto é que as práticas de sobrepesca e o aumento da poluição levam a um empobrecimento nas unidades populacionais” («stocks»)”.
Segundo fonte da Comissão Europeia, Bruxelas está consciente da importância socioeconómica e cultural das sardinha em Portugal, razão pela qual “está muito preocupada com o estado potencialmente precário da pesca de sardinha ibérica”, salientando que “as autoridades têm que levar isto muito a sério”.
“Bruxelas não proíbe a pesca de sardinha, aconselha os Estados-membros com base em pareceres científicos independentes do conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES)”.
Portugal e Espanha, irão tomar decisões sobre as capturas de sardinha nos próximos meses, e o comissário europeu para as Pescas, Karmenu Vella, irá analisar o perecer do ICES e trabalhar com Lisboa e Madrid para se encontrar uma resposta, “nomeadamente através do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas e os 506 milhões de euros do Programa Operacional para Portugal 2014-2020″.
A pesca da sardinha deverá ser proibida em 2018 em Portugal e Espanha, face à redução acentuada do "stock" na última década, refere o parecer divulgado na sexta-feira.
“Deve haver zero capturas em 2018″, recomenda o ICES, entidade científica consultada pela Comissão Europeia para dar parecer sobre as possibilidades de pesca, com base nos seus estudos dos "stocks".
Esta recomendação já foi contestada pelo Governo e pelo sector das pescas.
António Miguel Lé, o maior armador figueirense e presidente da Cooperativa de Produtores de Peixe Centro Litoral, em declarações tornadas públicas na edição de hoje do jornal AS BEIRAS, faz um balanço positivo da safra.
Acerca da proposta do ICES, mostra-se tranquilo.
“Não me preocupa absolutamente nada, porque o que está em causa é a falta de informação”, afirmou. “Estou optimista, porque as pessoas, se estiverem esclarecidas, compreendem. Às vezes, penso que tem havido intoxicação da opinião pública”.
Entretanto, António Miguel Lé rejeita decisões extremas. “No limite, numa opção radical, era proibir a pesca da sardinha em 2018. Se formos para radicalismos, o sector, Portugal e Espanha também podem ser radicais…”, sustentou o armador e dirigente.
Segundo o que também se pode ler na edição do jornal AS BEIRAS, “a União Europeia não diz que a pesca vai ser zero em 2018”.
António Miguel Lé acredita que vai acabar por prevalecer uma solução que tenha em conta a gestão de stocks e a economia que gira à volta da sardinha, da qual dependem milhares de postos de trabalho.
“Acho que vai prevalecer o interesse nacional, e não são os ambientalistas que vêm dizer-nos que o sector deve parar”.
António Miguel Lé, está optimista e acredita que negociações entre Lisboa e Bruxelas vão chegar a bom porto.
Amanhã, começa a paragem biológica da captura da espécie, também na Figueira da Foz, um dos mais importantes portos de pesca de sardinha do país (esta modalidade de pesca emprega, no nosso concelho, cerca de 400 pescadores).
Como será, então, o futuro para a para a pesca da sardinha?
Para 2018, António Miguel Lé deposita confiança nos negociadores portugueses.
“Não tenho dúvidas que o Governo vai negociar o melhor para o sector, de maneira racional e muito responsável, para dignificar o país e honrar os trabalhadores”.
António Miguel Lé defende que deve manter-se a modalidade que vigorou em 2017, ou seja, que Bruxelas permita capturar até 18 mil toneladas de sardinha, pois do seu ponto de vista, com aquele limite, a gestão dos stocks está garantida.
“Queremos continuar esta caminhada, por mais um ou dois anos”.
O regresso à pesca da sardinha poderá acontecer daqui a quatro meses. “Será retomada mediante o calendário a acertar pela tutela e a União Europeia”, lembrou o armador.
Para já, permanece a incerteza.
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