"Nas eleições para a Câmara em 2013, a abstenção contou-se pelos 52,29%, valor antes nunca alcançado na Figueira da Foz, muito superior ao anterior máximo obtido nas eleições de 2009 que foi de 42,79%.
Dos 58.884 inscritos apenas 28.074 se apresentaram nas urnas para votar. Apesar do partido mais votado, o PS, ter aumentado ligeiramente o número de votos em relação às eleições anteriores, a elevada abstenção conduz à conclusão de que apenas 22 em cada 100 eleitores figueirenses foram responsáveis pela adjudicação do poder absoluto na Câmara e na Assembleia Municipais à atual gestão executiva e deliberativa ou, para que melhor se compreenda, 78% dos eleitores não lhe adjudicaram essa responsabilidade.
Concluir que o fenómeno convém aos partidos mais votados é tão óbvio como perceber que os eleitores passam por uma fase de desencanto que se acentua na Figueira como em todo o país.
Ao facto não será alheia a ausência de objetivos claros que possam ser entendidos como forma de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos bem como também não é percetível o respeito pela ideologia consagrada no modelo de sociedade que cada um dos partidos propõe.
Em breve voltaremos a uma campanha eleitoral que se deseja que convoque o interesse dos cidadãos pela apresentação de propostas claras e que não utilizem tão só, como tem sido hábito nos últimos tempos, factos políticos fabricados “à la carte”.
Para que não sejam apenas 20% a mandar."
A abstenção, uma crónica com assinatura de Daniel Santos, hoje publicada no jornal AS BEIRAS.
Nota de rodapé.
Este, é um tema importante, já por diversas vezes abordado no OUTRA MARGEM. Aliás, pode ser decisivo, para definir o vencedor do acto eleitoral de 1 de outubro próximo.
É verdade que a abstenção não coloca em causa a legitimidade dos eleitos. Contudo, torna-os vulneráveis, enfraquece a consistência social e política da sua representatividade e menoriza a democracia representativa.
O certo, porém, é que desde as primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte, realizadas nesse dia 25 de abril de 1975, que jamais vou esquecer, que tiveram a participação de mais de 90% dos eleitores, que o aumento da abstenção se tornou num problema crónico e cada vez mais grave da nossa democracia.
Repito, para que não restem dúvida.
A abstenção não põe em causa a legitimidade dos eleitos, mas vulnerabiliza-os. Todavia, os mandatos ficam mais fracos do que se houvesse ampla participação eleitoral e mobilização da cidadania.
Existe a ideia, falsa, de que quanto maior a proximidade dos órgãos a eleger, mais alta é a participação eleitoral.
Não é verdade. As eleições autárquicas têm normalmente participação mais baixa do que as eleições legislativas.
E, desde a entrada no século XXI, a abstenção tem vindo a subir continuamente. A partir do ano 2000, na Figueira da Foz iniciou-se um caminho que nos conduziu a um estado em que mais de metade do total dos eleitores não votam.
É difícil encontrar outro tão forte e evidente sinal de fracasso de um sistema político: mais de metade dos cidadãos do nosso concelho não se interessam e não querem saber da sua vida e da gestão da sua cidade.
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