"Dom Helder da Câmara, que foi arcebispo do Recife, escreveu: “Não há liberdade sem independência económica”.
O que significa sem liberdade económica.
Esta proposição, este pensamento, não é utópica, nem subversiva.
Na sociedade actual, considerando que 99% da população tem de trabalhar para sobreviver, o importante é existir trabalho para todos. Remunerado de forma a assegurar as suas necessidades.
Não se trata de alinhavar conceitos marxistas. Todos sabemos que nesta premissa se baseia a existência de uma sociedade equilibrada.
Até o actual presidente dos Estados Unidos usou e abusou das necessidades dos desempregados pelo encerramento de fábricas, de aço, de automóveis, de minas; e a neofascista Le Pen jogou com o desemprego, ou emprego precário, de milhões de franceses. Sem vida digna não há utopia que resista. A salvação da alma, para os crentes, implica, parece-me, a salvação do corpo.
La Fontaine, numa fábula: "E cada um só acredita/ No que receia ou deseja".
A história tem dado razão ao escritor francês.
Os exemplos multiplicam-se. Mas sem certezas, embora temperadas pela dúvida metódica, sem determinação, sem amor, a vida do homem complica-se.
A “doença oculta” portuguesa, de que falou Jorge de Sena no seu poema “Portugal”, está mal, ou não diagnosticada. Vamos “inspeccionando as chagas / uns dos outros”, mas a cura continua longínqua, por descobrir."
Onde está a cura?, uma crónica de António Augusto Menano, escritor.
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