"Dom Helder da Câmara, que foi arcebispo do Recife, escreveu: “Não há liberdade sem independência económica”.
O que significa sem liberdade económica.
Esta proposição, este pensamento, não é utópica, nem subversiva.
Na sociedade actual, considerando que 99% da população tem de trabalhar para sobreviver, o importante é existir trabalho para todos. Remunerado de forma a assegurar as suas necessidades.
Não se trata de alinhavar conceitos marxistas. Todos sabemos que nesta premissa se baseia a existência de uma sociedade equilibrada.
Até o actual presidente dos Estados Unidos usou e abusou das necessidades dos desempregados pelo encerramento de fábricas, de aço, de automóveis, de minas; e a neofascista Le Pen jogou com o desemprego, ou emprego precário, de milhões de franceses. Sem vida digna não há utopia que resista. A salvação da alma, para os crentes, implica, parece-me, a salvação do corpo.
La Fontaine, numa fábula: "E cada um só acredita/ No que receia ou deseja".
A história tem dado razão ao escritor francês.
Os exemplos multiplicam-se. Mas sem certezas, embora temperadas pela dúvida metódica, sem determinação, sem amor, a vida do homem complica-se.
A “doença oculta” portuguesa, de que falou Jorge de Sena no seu poema “Portugal”, está mal, ou não diagnosticada. Vamos “inspeccionando as chagas / uns dos outros”, mas a cura continua longínqua, por descobrir."
Onde está a cura?, uma crónica de António Augusto Menano, escritor.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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