Hoje, a cidadania fez ouvir a sua voz no decorrer da Assembleia Municipal da Figueira da foz.
Oito cidadãos usaram da palavra. Sete para falarem sobre o PDM e um para abordar o tema do Orçamento Participativo.
O responsável por este blogue foi um deles. Fica a minha intervenção.
Boa tarde a todos.
Oito cidadãos usaram da palavra. Sete para falarem sobre o PDM e um para abordar o tema do Orçamento Participativo.
O responsável por este blogue foi um deles. Fica a minha intervenção.
Boa tarde a todos.
Não
tenho partido, nem religião, nem pertenço a nenhuma sociedade
secreta, também não tenho terrenos para urbanizar, nem nunca fui
trabalhador, nem tive qualquer familiar a trabalhar na antiga fábrica
Alberto Gaspar e, muito menos, tenho interesses no Cabedelo. Dou-me
ao incómodo de estar aqui hoje porque acredito que só em Liberdade
e com o exercício da cidadania, Portugal e a Figueira poderiam
evoluir no sentido do progresso, da democracia e duma sociedade com
oportunidades para os cidadãos.
Mas
vamos ao concreto que o tempo é escasso.
Em
novembro de 2006, em plena reunião de câmara realizada no dia 6, o
então vereador PSD Paulo Pereira Coelho, manifestou-se contra a
urbanização dos terrenos da Alberto Gaspar.
Mas,
sublinhou na altura, se tiver de ser feita, “que seja a autarquia a
ganhar dinheiro a favor dos munícipes”.
Nessa
reunião de câmara, o vereador da então maioria Paulo Pereira
Coelho mostrou-se contra a alteração do Plano de Urbanização (PU)
nos terrenos da Alberto Gaspar, em S. Pedro.
No
essencial, o PS, à época na oposição, defendeu a mesma
posição.
Em 6 de
novembro de 2006, já há dois anos, que os cerca de 70 trabalhadores
tinham rescindido os contratos de trabalho com a empresa, alegando
salários em atraso.
Passado
todo esse tempo a administração da empresa pressionava os políticos
com o argumento de que o dinheiro (perto de seis milhões de euros)
da alienação dos terrenos a um grupo espanhol, que pretendia
construir cerca de mil fogos em altura, era para pagar aos credores,
incluindo os antigos trabalhadores. Mas Paulo Pereira Coelho defendia
que “a câmara não teve culpa” que a Alberto Gaspar tivesse
chegado à situação em que se encontrava.
“Se os
terrenos (de 12 mil metros quadrados) estão na massa falida, a
câmara que vá lá e que os valorize, que os venda e que ganhe
dinheiro com eles a favor dos munícipes”, sugeriu Pereira Coelho.
Isto, no
contexto de o antigo presidente Duarte Silva manter a decisão
de avançar com a alteração ao PU, porque Pereira Coelho deixou
claro estar contra a transformação de terrenos industriais numa
área de “especulação imobiliária”.
Como era
óbvio, a situação dos trabalhadores estava a ser usada como
modo de pressionar a câmara de então a tomar decisões.
Dado que
os terrenos foram cedidos pelo Estado para a implantação de uma
indústria, acabada que está a função para a qual os terrenos
foram cedidos à Alberto Gaspar, não estará na escritura de venda
então feita, salvaguarda uma cláusula de reversão dos
terrenos?
Em 2005,
como membro da Direcção de uma instituição de solidariedade
desta cidade, assinei uma escritura com o Estado, que vendeu os
terrenos à Instituição, onde ficou salvaguardado que aqueles
terrenos eram para ser utilizados pelo Centro Social da Cova e Gala
para fins sociais. Se a instituição, por qualquer motivo acabar, os
terrenos voltam à posse do estado e não podem ser vendidos
pelo actual proprietário, por exemplo, para a especulação
imobiliária.
Será
justo, depois da forma vergonhosa como foi resolvido em desfavor dos
trabalhadores o caso da falência da firma Alberto Gaspar, que
venham a ser os herdeiros do Alberto Gaspar a beneficiar com as mais
valias que a transformação de terrenos, que foram cedidos em
condições especiais para uso industrial, em terrenos para a
especulação imoblilária, vão proporcionar?
Neste
executivo camarário, está um membro há quase 8 anos, que antes de
estar no poder, tinha uma posição claríssima sobre isto e passo a
citar:
“ Os terrenos
foram vendidos a preço muito baixo para a actividade industrial; uma
vez abandonada esta, era natural que os terrenos pudessem reverter
para os seus proprietários, o Estado e a autarquia” – (in
Figueira da Foz- Erros do passado, Soluções para o Futuro, pág.
49, obra
publicada em Setembro de 2009)
Pergunto:
em 8 anos teve alguma iniciativa para ver se a reversão a favor do
Estado dos terrenos da firma Alberto Gaspar era possível?
O que
vai ser permitido construir nos terrenos da Alberto Gaspar?
Para
além da permeabilização dos solos, que é preciso preservar, a
falta de inserção do que esteve previsto construir naquela zona
(por exemplo, um hotel com 18 pisos...) na malha urbana era evidente,
o que tornaria aquele local numa "ilha" na estrutura
sociocultural da Aldeia, vai ser impedida?
Isto é
importante, porque para alguns o desenvolvimento ainda continua a ser
a construção e avanço do betão...
Dado que
tenho de terminar a intervenção, peço só mais um minuto de
atenção.
Sobre o
Cabedelo quero saber tudo. Num dia da outra semana, com o arquitecto
Miguel Figueira e o Eurico Gonçalves, fui à junta de freguesia de
S. Pedro para tentar ver o Projecto do Cabedelo e não pudemos, pois
o presidente não estava e o projecto estava no seu gabinete. Eu
pensava que um projecto daqueles, deveria estar acessível, por
exemplo exposto no hall de entrada do edifício para análise.
Como não
é assim um vulgar cidadão, como eu, só encontra dificuldades...
Mas, isso nunca me irá desanimar: a minha vida tem tido sempre muitas
dificuldades...
Tenho
dito.
António Agostinho
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
O
discurso que o dr. Delmar Damas não teve a hipótese de concluir na
Assembleia Municipal fica aqui na íntegra.
Uma
intervenção magnífica hoje na Assembleia
Municipal da Figueira da Foz, digna de ser publicada em toda a sua
extensão e lida com atenção:
A Urbe
Figueirense e o seu desenvolvimento sustentável - Assembleia
Municipal de 28 Abril 2017
Senhor Presidente da Assembleia
Municipal; Senhoras Deputadas e Senhores Deputados Municipais; Senhor
Presidente da Câmara Municipal; Senhoras Vereadoras e Senhores
Vereadores, e demais presentes, os meus respeitosos cumprimentos.
A
Carta de Aalborg, teve a sua génese na 1ª Conferência Europeia das
Cidades e Vilas Sustentáveis, evento ocorrido naquela localidade
dinamarquesa em Maio de 1994, e traduz-se numa Campanha para a real
vinculação política das autoridades locais na adopção de
políticas de desenvolvimento sustentável das cidades, vilas e
comunidades rurais, a fim de se comprometerem com as melhores
práticas para a sustentabilidade do ambiente da urbe, reflectindo e
fazendo intercâmbio de experiências para que sirvam para a
elaboração de recomendações que possam influir nas políticas
europeias de desenvolvimento sustentável local. Como objectivos,
pretendia-se uma reflexão séria e responsável das autoridades
locais sobre, por exemplo:
- economia urbana com a conservação
do seu capital natural;
- correcto ordenamento do território;
-
mobilidade urbana;
- a equidade;
- participação
das comunidades locais nas tomadas de decisão e alcance de
consensos;
- conservação da natureza, etc.
Por
capital natural, entende-se, mais do que o conjunto dos recursos
naturais, o valor que a natureza tem para as comunidades.
A ela
aderiu o Município da Figueira da Foz em Agosto de 1996.
A 8 de
Outubro de 1996, no âmbito da 2ª Conferência Europeia das Cidades
e Vilas Sustentáveis, que teve lugar na nossa capital, surge o
“Plano de Acção de Lisboa: da Carta à Acção”, visando a
aplicação efectiva da referida Carta de Aalborg, passando-se da
fase da reflexão para a fase da concretização, lançando-se a
Agenda Local 21.
Isto para dizer que as autoridades do município
da Figueira da Foz estão comprometidas com as boas práticas da
gestão urbana no que concerne à observância dos objectivos da
Carta de Aalborg.
Ora bem, as autoridades dos municípios que
aderiram, em especial as nossas, não podem fazer letra morta destes
objectivos e seus compromissos numa rede de comunidades europeias.
Razão pela qual, entre nós, as autoridades locais criaram o Plano
Estratégico de Desenvolvimento da Figueira da Foz, que incorpora
aqueles objectivos.
Hoje, que discutimos as alterações ao PDM,
instrumento magno da gestão do ordenamento do território municipal,
não podemos ficar insensíveis a decisões de gestão local que
causam polémica e fricção com as comunidades locais e sobre as
quais, pela sua dimensão e consequências, não há possibilidade de
consensos e põem em causa a economia da cidade e seu capital
natural; o correcto ordenamento do território e a conservação da
natureza. Numa frase: o seu desenvolvimento sustentável.
Considerando
que no fulcro do desenvolvimento sustentável estão as comunidades
locais e sua relação harmoniosa com o seu espaço local,
constatamos que se nas comunidades rurais, por hoje existir
saneamento básico nas mesmas, resulta polémica e de nenhuma
compreensão a quase impossibilidade de os filhos construírem as
suas casas nas localidades onde nasceram e onde viveram com seus
pais, e onde têm terrenos, empurrando-os para as freguesias urbanas,
repletas de construção vazia, e contribuindo para a desertificação
das rurais, já de si envelhecidas e desmotivadas nos projectos
agrícolas; por outro lado, temos que considerar, na civitas, stricto
sensu, atento os graves erros urbanísticos do passado com a
edificação urbana, a necessidade de preservação de espaços
verdes para fruição pública, de relevante importância, como é o
caso do tão falado e vetusto “Corredor Verde”, que vai desde o
Jardim, junto à foz do Mondego, seguindo pelas Abadias até ao
Parque de Campismo e deste à Serra da Boa Viagem.
Lembro que
aquando do terrível incêndio ocorrido no Verão do longínquo ano
de 1993, em que ardeu a Serra da Boa Viagem, deixando uma mancha
cinzenta no chão, onde subsistiam em pé medonhos espectros negros
do que foram árvores, surgiu em defesa da sua reflorestação o
Movimento Serra Verde, de que tenho o grato prazer de ter sido um dos
seus fundadores. Tivemos, conjuntamente com toda a comunidade local,
uma actuação relevante até em pedagogia, com milhares de crianças,
das diversas escolas do nosso concelho, a deslocarem-se à Serra e a
participar, durante vários dias, na sua reflorestação; e o mais
gratificante foi ver depois esses alunos (hoje mulheres e homens
feitos e com memória!) a voltar lá aos fins-de-semana com os pais,
levando água e regando, num compromisso tocante com a Natureza. Hoje
está lá uma enorme mancha de pinheiros e uma pedra comemorativa do
evento.
Em 1997 voltámos para defender o espaço do Parque de
Campismo e Horto Municipal que o Executivo de então pretendia
alienar para construção, o que foi evitado pela oposição enérgica
de milhares de munícipes numa petição então apresentada e que
teve também por grande impulsionador o meu amigo e Colega Dr. Luís
Pena, entre outros, Colegas e amigos que também a assinaram.
Lembro-me que na altura surgiu a candidatura de Santana Lopes que,
colando-se a esse movimento de oposição, defendeu publicamente a
manutenção daquela área; porém, depois das eleições ganhas,
veio defender, através da sua Vereadora Rosário Águas, que não
fazia sentido um parque de campismo no meio da cidade, demonstrando
interesse em o alienar… adivinhámos que para construção! Na
altura era o vibrante “Linha do Oeste” o nosso “combóio” que
nos levava na pulsante viagem contestatária, e onde publiquei, em
resposta, um extenso artigo de opinião dirigido ao Chefe do
Executivo lembrando-o que o que estava em causa não era a existência
ou não de um parque de campismo no meio da cidade (o qual poderia
estar noutro lado qualquer), mas a preservação daquele espaço
arbóreo intacto para fruição pública, como Parque da Cidade ou
outra valência ecológica. A “coisa” ficou por ali, mas a
tentativa ficou registada.
Em 2007, face à possibilidade de
aptidão construtiva, nova petição, também com milhares de
assinaturas, desta feita a requerer, na revisão do PDM, a
preservação de todo o espaço envolvente do parque de campismo: o
próprio parque, o prédio confinante a Norte/Nascente, e o Horto
Municipal.
Hoje, 2017, tudo se repete. Conclui-se que os anos
terminados em 7, e num ciclo de 10 em 10 anos, são funestos para o
espaço do parque de campismo e áreas contíguas.
Hoje temos a
singular, insólita e paradoxal particularidade de termos signatários
dessas petições no actual Executivo que, entretanto, entendem que
as circunstâncias se alteraram e se justifica o sacrifício de “uma
dentada” no Horto, pois que é essencial que assim seja em prol do
desenvolvimento económico do nosso concelho. E explicam: O Jumbo tem
necessidade de se alargar, não tem para onde, e quer trazer aquilo
que hoje muito avançadamente chamam de “lojas âncora”. Ou seja,
lojas de marcas mundialmente famosas que, na óptica do Executivo e
de quem o convenceu da ideia, atraem à nossa cidade clientes de
outras bandas e fixam (daí o nome âncora) os de cá, que, deste
modo, não vão fazer compras a outros lugares fora do concelho. Isto
cria riqueza na economia local e estima-se que se crie, por
consequência directa, cerca de 2.000 postos de trabalho.
São
estes os argumentos, grosso modo, para o sacrifício do perseguido
Horto Municipal. Perseguido e sacrificado, pois aquando da construção
do Jumbo já havia levada uma “dentadinha”. Pelo que, com mais
esta dentada que pretendem dar, estamos bem em crer que o pobre Horto
de perseguido e sacrificado passará, definitivamente, a finado. Daí
a dar-se uma dentadinha no parque de campismo é coisa de tempo, não
importando que Executivo, e bem se vê onde tudo irá parar.
Eu
compreendo o argumento do Executivo, e todos nós o percebemos e,
secretamente e num primeiro impulso, até somos levados a concordar.
É que isto de 2.000 empregos, numa terra onde há míngua de
trabalho e nesta crise que atravessamos, a uma dentadinha, ou mesmo
uma dentada mais saciante, nós, olhando cumplicemente para o lado,
nem sentíamos… e apenas lhe desejávamos ao Horto uma morte
serena, indolor.
O problema é que o argumento não é
sério!
Ninguém acredita que se criem 2.000 postos de trabalho.
Isso é uma falácia, uma impossibilidade lógica. Se fosse a Mega
Tesla a instalar-se no Horto ainda vá que não vá, mas não o
Jumbo, pois se com aquela superfície toda já em funcionamento nem
de perto nem de longe os emprega, como se daria esse milagre no
Horto? Onde estão os estudos que o comprovam?
Se calhar nem 200,
nem 100, muito provavelmente.
Quando eu digo que o argumento não
é sério vale dizer que o argumento não é válido. Mas isto não
implica, de modo nenhum, que o Executivo que o apresenta não seja
sério. É sério, com certeza. Mas o Executivo não tem experiência
empresarial; não domina as rebuscadas técnicas do mercado da
construção civil, do interesse imobiliário das grandes
superfícies. O Executivo está, e bem, mais preocupado em gerir, da
melhor forma possível, a coisa pública. O Executivo, naturalmente,
quer o bem do seu concelho. O Executivo, qualquer Executivo, quereria
um investimento para o seu concelho que gerasse 2.000 empregos. Isso
é o sonho de qualquer Executivo camarário. Pelo que compreendo que,
numa abordagem, ao incutirem no Executivo a possibilidade de, com um
investimento desses, se criarem 2.000 empregos, este, de boa-fé, se
entusiasmasse a tal ponto que até antigos e férreos defensores do
Horto, ora Vereadores aqui presentes, agora entendam que uma
“dentada” a mais ou a menos pouca diferença fará, que diacho.
Venham os empregos! E, já no reino da semântica, das palavras que
permitem defender com toda a elegância e convicção uma coisa e o
seu contrário, numa aperaltada argumentária desculpante, já dirão
que, afinal, não passa de um horto, meio enfezado até, e nem há já
jardineiros municipais para dele cuidar, e tem lá uns armazéns
feios e um canil degradado, uma coisa pavorosa. Um bem de Deus que
desaparecesse, que assim não definhava tanto e ia num sopro. Leve-o
Deus.
Todos nós compreendemos o legítimo entusiasmo do Executivo
e, portanto, também compreendemos que, levado por aquele equívoco,
lhe queira dar capacidade construtiva nesta revisão do PDM. Mas, não
se deixe o Executivo arrastar nesta ilusão dos 2.000 empregos que
mais se tornou numa questão de fé, de ingénua crença, do que
propriamente algo objectivo e que lhe toldou o espírito. Que faça
uma pausa para reflexão, uma fria pausa, para que arrefeça no
entusiasmo, e peça (nem era preciso tanto!) a um economista da
câmara que faça as contas dos empregos, sob pena de continuarmos a
olhar para o Executivo com a mesma postura com que se olhou para o
célebre e embaraçante momento em que o Eng. António Guterres,
atrapalhadinho com os cálculos que o teimavam em afligir
recusando-se a vir à luz do dia, pois por vezes os números são
mais matreiros que as palavras, soltou a aliviante e gaguejante
expressão que ficou para a história: “Bem... é…é… é só
fazer as contas.”
Melhor fora que subisse o Jumbo em altura,
sendo que mais um piso em nada destoava e muito menos comparando com
o que destoaria o acimentar do Horto. E se o argumento for o do PDM o
não permitir, então melhor fora que se propusesse a sua alteração
nesse particular. Assim tudo se resolvia a contento de todos.
Os
poucos espaços verdes existentes na urbe são de preservar! Ainda
ontem o nosso caríssimo amigo Engº Daniel Santos, na sua
intervenção no debate sobre o PDM, promovido pela Associação
FigueiraViva, dizia que, por princípio, era a favor da preservação
dos poucos espaços verdes ainda existentes na cidade, até como
forma de compensação pelos graves erros urbanísticos cometidos no
passado. E quanto ao Horto, não abdicando desse mesmo princípio de
preservação, referiu que só se sabendo previamente o que para lá
se pretendia fazer e que área ocupava é que se poderia avaliar da
justificação ou não do seu sacrifício. E este é um dos erros do
actual Executivo: previamente não nos diz nem que área nem o que
concretamente ali se pretende ao certo fazer, de modo a se avaliar,
com clareza, da justificação do seu sacrifício. Pelo que, ao se
inserir o Horto, na actual revisão do PDM, em área com capacidade
construtiva, é passar-se um cheque em branco para se usar quando e
como bem se entender. E isso, com todo o respeito e com toda a
frontalidade, não pode ser! E não pode ser porque se assim fosse se
desvirtuava a relação de confiança com a comunidade. Ninguém deve
passar cheques em branco a ninguém. É uma questão de mero bom
senso e prudência. E ninguém de bem pode querer aceitar cheques em
branco de quem quer que seja, pois a honradez lho impede.
Resultou
ainda, desse debate de discussão do PDM, o apontamento de uma
exagerada malha de grandes superfícies comercias na periferia da
urbe, justificando-se mais a aposta do comércio, mesmo o das grandes
superfícies como é o caso do Jumbo, no coração da cidade, o qual
anda deserto, esquecido, degradado, e já não bate.
O
Horto, esse invulgar espaço verde, campo de cíclicas contendas e
que vive em permanente sobressalto, para o qual alguns olham, quais
“lagartas” cheias de larica, com irresistível vontade de o
dentar, deve ser considerado para futuro, e de modo definitivo, como
parte integrante da área do Parque de Campismo, e este da grande
área do “Corredor Verde”. Mantendo-se um grande espaço verde
necessário ao bem-estar da comunidade que, após a destruição do
Pinhal Sotto Mayor e agora a extinção da emblemática Quinta de
Santa Catarina e sua extensão a Nascente, vê nesse “Corredor” o
símbolo de uma natureza mínima presente numa cidade de betão, cada
vez mais descaracterizada e de tantos prédios vazios que, pelo
menos, manteria assim o resquício dos objectivos assumidos na Carta
de Aalborg que se voltam aqui a lembrar, por nunca ser demais
fazê-lo:
- economia urbana com a conservação do seu capital
natural;
- correcto ordenamento do território;
- equidade;
-
participação das comunidades locais nas tomadas de decisão e
alcance de consensos;
- conservação da natureza.
Senhor
Presidente da Assembleia Municipal; Senhoras Deputadas e Senhores
Deputados Municipais; Senhor Presidente da Câmara Municipal;
Senhoras Vereadoras e Senhores Vereadores, e demais
presentes,
termino dizendo que, na reunião de Câmara de 17 de
Abril de 2017, o meu amigo e Colega Dr. Luís Pena, na sua
intervenção chamava a esta casa a “Casa da Democracia”. Eu não
tenho esse seu agudo espírito político/filosófico, sou mais do
género contemplativo, pelo que a chamaria, no objecto desta minha
intervenção, de “Casa do Silêncio”. Do Silêncio porque tantas
vezes aqui se decide o destino de tanta coisa que não tem, nem
ninguém lhe dá voz, mas que a deveria ter. E só percebemos que há
coisas que não têm voz mas a deveriam ter, quando, superando a
azáfama anestesiante do nosso dia-a-dia, tivermos a capacidade, por
exemplo, de parar e olhar em nosso redor. Veríamos a natureza
fascinante que, já em tão poucos redutos, ainda subsiste na nossa
cidade de betão e cada vez mais abandonada de gente que parte por,
lamentavelmente, não haver o que cá a fixe. Reparem nas árvores
verdejantes, nas flores que despontam na força maternal da
Primavera; nos pássaros que agora nidificam e enchem os nossos céus
de chilreios e movimentos de vida graciosos; reparem no pequeno corgo
que passa pelas Abadias como um fino espelho onde o céu se reflecte
e as aves saciam a sua sede e as libelinhas pairam com asas de finas
rendas e as rãs coaxam.
Quando acordamos das nossas vidas
agitadas deparamo-nos com um mundo mágico que sempre esteve ao nosso
lado… mas que já não temos a capacidade de o ver.
Sabem que
tudo isto vive e não tem aqui voz?!
A voz que tem é apenas a dos
milhares que ao longo de décadas o têm defendido.
Quantas
petições entraram nesta casa com 4.000 assinaturas?
Quantas?!
Percebem, então, a importância “espiritual”,
chamemos-lhe assim, que este mundo mágico representa para tanta
gente?!
Hoje, eu trouxe-vos a esta “Casa do Silêncio” a voz
desse mundo mágico e das vozes dos ausentes que sempre o defenderam.
Hoje, vocês ficam com a responsabilidade de cuidar ou destruir esse
mundo.
Lembrem-se que é de mundos mágicos que nascem os sonhos
das nossas crianças. De crianças que também os ajudaram a criar
(recordo aquelas milhares da Serra da Boa Viagem!) e hoje, já
adultos, talvez pais, esperam de vós que tenham a coragem de
permitir que as nossas crianças continuem a sonhar. A sonhar na
nossa cidade!
Cabe-vos a vós decidir enviar para o Horto
Municipal ou um jardineiro, que dele cuide, ou uma máquina que a ele
o arrase.
Despeço-me, pedindo a cada um de vós que hoje, se
possível, no you tube, vejam o pequeno filme sobre um livro infantil
de José Saramago chamado “A Maior Flor do Mundo”. Compreenderão
o espírito desta minha intervenção e o quanto é necessário
salvaguardar todos estes preciosos e já poucos espaços verdes que
referi, de um mundo de apetência desenfreada pelo estéril betão
que nos esmaga e acinzenta… porque nos rouba os sonhos!
Encheu-me
de esperança a recente deliberação da Assembleia de Freguesia de
Buarcos e S. Julião, a uma proposta apresentada, sem nenhum voto
contra, no sentido de que “toda a área que compõe o Horto
Municipal e terrenos adjacentes a norte/poente do Parque de Campismo
seja afecta e integrada no terreno do Parque de Campismo”.
Ou
seja, aquilo que, afinal tanta gente vem defendendo há mais de 20
anos; gente que mostra assim coerência. Coerência que, para outros
já moldados pelo implacável Tempo, e que eu, apesar disso, muito
estimo, não passará, erradamente, de mera obstinação.
Dizia
então, em extracto da acta de Reunião de Câmara Municipal de
06/06/2008, um nosso muito querido e estimado Vereador, aqui
presente, relativamente ao Horto: “A educação das crianças e
jovens faz-se cada vez mais em espaços fechados, fora dos ambientes
naturais e na ausência duma sã conjugação com a natureza; Por
esta razão, a natureza está cada vez mais distante dos espaços de
aprendizagem e convívio, dando lugar a outros, mais artificiais e
mais desumanos; proximidade da natureza e a educação ambiental são
assim um imperativo da formação das crianças e dos jovens,
sobretudo daqueles que crescem e vivem dentro dos espaços urbanos.
Percepcionar os ciclos de vida e a dependência e ligação do homem
a estes, contribui para a construção de seres mais sensibilizados
para a real posição do ser humano no planeta.
Assim, com os
objectivos e nos termos abaixo indicados, os Vereadores do Partido
Socialista propõem a esta Câmara a criação de uma horta/quinta
pedagógica a funcionar no local do actual Horto Municipal. Com esta
proposta, o Horto passa a ter uma nova valência, permitindo retirar
do seu funcionamento uma mais-valia acrescentada que, de outra forma,
se perderia. A sua situação privilegiada e o know-how que já
detém, fazem dele o local por excelência dos objectivos que se
pretendem atingir.
Ao mesmo tempo, os professores e a comunidade
educativa em geral têm necessidade de um laboratório desta índole,
pois está-se perante uma valência educativa e uma infra-estrutura
com uma funcionalidade que hoje inexistem;
O Horto Municipal e a
Horta/Quinta Pedagógica prestarão também um serviço até agora
inexistente, estando abertos e disponíveis para as horas de lazer
das famílias”.
Senhor
Vereador, Senhor Vereador… isso que disse e defendeu é Belo, é
isso mesmo que sempre e agora defendemos. O Belo é imutável, é
eterno, é intemporal… e carente de defesa constante! Quem lhe
abandona a defesa?!
Saibam, que contra o Belo não se vence;
perde-se mesmo vencendo!
Bem-haja.
Delmar
Damas
Bem sabes como e prezo e me revejo em muitas das tuas opiniões.
ResponderEliminarDesta vez não poderei estar de acordo contigo.
O cidadão Delmar Damas, tem todo o direito de fazer ouvir a sua voz, mas também tem a obrigação de respeitar as regras democráticamente sustentadas.
O seu comportamento, ontem, na Assembleia Municipal, foi vergonhoso e desprestegiante para aquele orgão autárquico.
Pela sua formação, tem a obrigação de se comportar de outra forma.
Foi dos momentos mais tristes que assisti naquele espaço.
A ponto solto:
ResponderEliminarAs intervenções no dia 28-4-2017, que li atentamente, são de facto Fabulosas, só os Puros Figueirenses podem sentir, cheirar e saborear A Verdade e a Honestidade de tais intervenções, particularmente a do Dr. Delmar, que nem conhecia, nem conheço, porém uma intervenção Soberba, espero bem ter envergonhado a bancada do PS, à excepção do "dissidente", Quanto às posições e governações do PS, nem vale a pena comentar. Bem podem os governantes da CMFF escrever todos os dias livros e livrinhos, terem prémios, mas o mais importante está nas acções, e quanto às acções, tudo dito. O PS é um Partido de Direita, porque sempre governou contra a esquerda, porque é contra quem trabalha (curiosamente tem militantes que trabalha, e que são contra eles próprios, enfim...), é contra o interesse do colectivo. Para o amigo João Carronda e seus Camaradas aconselho o Livrinho CONTOS PROIBIDOS do V/ camarada e fundador do PS, Sr. Rui Mateus, e já agora um livro mais recente, QUANDO PORTUGAL ARDEU - de Miguel Carvalho. Onde os mais distraídos poderão perceber porque razão só o PCP (80 sedes, saqueadas e/incenciadas, e mais um ou outro partido da extrema esquerda foi alvo dos Bombistas. Curiosamente o PS não foi alvo, enfim.... Quanto aos Contos Proibidos existe na net em PDF, ou eu próprio posso emprestar. Isto é história, isto é cultura política.