Adriano Miranda |
O povo cubano é diferente. Não parece deste mundo. Eu, fruto do capitalismo desenvolvido sentia-me pequeno perante a grandeza de tamanha gente. Culta, interessada, inteligente e coisa rara, humana.
Respirava-se outros valores e fiquei sem respiração quando um velho me convidou a entrar na sua casa. Olha, tenho casa, televisão, banheiro e até batedeira. O velho em novo foi criado de americano. Não tinha nada, só as suas mãos e a força do saber que alguma coisa tinha que mudar. A revolução deu-lhe quase tudo. Outras tantas faltarão.
Depois de meses a aprender a ser cubano aprendi que nunca lá chegaria. Numa noite de trovoada, a Ângela, uma negra grande e linda, olhou-me nos olhos e disse "fica". Não fiquei. Não tinha a grandeza humana que um cubano tem.
Depois de meses em Cuba regressei a Portugal e todos os santos domingos ia a uma cabine telefónica para ouvir a voz doce de Ângela.
Um dia a Ângela aterrou na Portela. Foram dias loucos. E numa noite num hotel em Lisboa olhei-a nos olhos e disse "fica". Não ficou. Tinha que ajudar Cuba. O amor impossível findou. Ficámos os dois nos seus mundos tão distantes e tão próximos. Nunca mais voltei a aterrar em Havana."
Queria tanto ser cubano, é uma crónica de Adriano Miranda, fotojornalista do Público. Pode ser lida na íntegra, clicando aqui.
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