Como sei, há muito e por experiência própria, que na sociedade figueirense não se pode discutir tudo, vou contar uma pequena história, com mais de 30 anos.
Aí por finais de 1981, dada a posição da Assembleia Municipal de Salvaterra de Magos, que se opôs à instalação da fábrica de celulose, em Marinhais, por considerar que não estava garantida a salvaguarda das actividades económicas fundamentais da região - ligadas, sobretudo, à agricultura - e o meio ambiente, os administradores da Soporcel, optaram pela Leirosa, Figueira da Foz.
O assunto, naturalmente, foi à Assembleia Municipal do nosso concelho.
Em Março de 1981, o processo, no mínimo controverso, da instalação da nova unidade de celulose, empurrada de Salvaterra de Magos, obteve acolhimento favorável dos órgãos autárquicos figueirenses: unanimidade na Câmara e maioria, com duas abstenções da então APU, na Assembleia Municipal.
As abstenções tinham a ver, no fundamental, com questões ambientais e qualidade de vida das populações. A água, na altura, era outro problema que preocupava a força política que se absteve.
A APU, com as suas reticências, quis chamar a atenção para estes aspectos.
Na altura, recordo, um grupo de populares da Leirosa entregou mesmo na Câmara Municipal da Figueira da Foz uma petição com 383 assinaturas, na qual se afirmava que "o povo da Leirosa concorda com a instalação na zona, mas reclama para os habitantes da Leirosa e freguesia da Marinha das Ondas prioridade no preenchimento dos postos de trabalho criados pelo empreendimento..."
Por essa época, era correspondente na Figueira da Foz do jornal O Diário.
Por encomenda da direcção do jornal, fiz um trabalho sobre o processo de instalação da nova unidade de celulose no nosso concelho, que então se estava a iniciar.
Lembro-me que, pela APU, ouvi o meu saudoso Amigo Gilberto Branco Vasco, então membro da Assembleia Municipal da Figueira, eleito por esta força política.
Depois, em outubro de 1981, numa sessão de charme, os responsáveis pela nova unidade então em fase construção - o início da laboração estava previsto para o 2º semestre de 1983... - promoveram uma conferência de imprensa onde o barca nova ventilou o problema do abastecimento de madeiras para a nova unidade fabril.
Concretamente, foi questionado se havia estudos capazes de, à partida, garantirem um abastecimento sem problemas, sobretudo no domínio do eucalipto.
E os representantes da Soporcel foram obrigados a admitir o que se desconfiava: não havia...
Haveria, talvez, esboços, vontade de proceder a exames cuidadosos da situação, mas dados certos e seguros , sem margem para dúvidas - não.
E o jornal, de que eu era redactor, como era sua obrigação, deu conta disso na edição de 6 de novembro de 1981.
Esse era, na altura, como se veio a provar depois, um problema nacional de indesmentível importância: o chamado problema do eucalipto.
Não sei se foi coincidência, mas aconteceu-me o seguinte.
No período em que estiveram abertas as candidaturas para trabalhar na nova unidade fabril, como tantos outros candidatos, enviei o meu curriculum vitæ para me candidatar a um posto de trabalho.
Até hoje, nunca soube porquê, continuo à espera de ser chamado para prestar provas...
Foi uma lição de vida para mim.
Residiu aí, porventura, o conhecimento e assumpção do estoicismo que me tem acompanhado.
A resistência estóica, mais do que uma questão de vontade ou de necessidade, passou a ser, para mim, um assunto de cidadania e de sobrevivência.
Por isso, quando me tentam lixar, o meu alimento é a resistência.
Passei a não dar excessiva importância àquilo que o não merece.
Quem actua assim é rasteirinho, baixo e como tal deve ser tratado: com silêncio e desprezo.
Por mim, o assunto está ultrapassado há muito. Só espero e desejo que, estas e outras boas consciências que passaram pela minha vida, durmam descansadas.
Sans rancune.
Os videirinhos e agregados têm sempre,sempre uma frase tipo na ponta da língua:"estou de consciência tranquila".
ResponderEliminarDe imediato...desconfio!
E passados estes anos as suas dúvidas continuam sem resposta?
Quem manda na Figueira?
O eucalipto!