"Lembram-se da trupe que anda sempre a reclamar por menos Estado? Menos dinheiro dos contribuintes, como costumam dizer, para isto e para aquilo?
Esqueçam.
Habituados à mama dos negócios à conta do Estado, agora choram porque um governo decidiu cortar nas gorduras. Mas mesmo nas gorduras e não nos salários e nas pensões, como fizeram esses que antes anunciaram cortes nas gorduras.
Há a possibilidade real do Estado reduzir a despesa, cortando em serviços de que não precisa – as escolas privadas onde há oferta pública. E que dizem os liberais do encosto ao Estado? Que não pode ser, pois precisam de liberdade de escolha. Como sabem, liberdade implica responsabilidade, logo peguem na carteira e assumam a liberdade da sua escolha. Tenho a certeza de que ninguém os impedirá.
O que está em causa é algo diferente. É a concepção de que o “dinheiro dos contribuintes” deverá ser gasto para proporcionar escolas de luxo a quem conseguir nelas ser aceite, em detrimento da ralé que se deve contentar com um serviço público onde a escola não passa de um depósito de crianças.
Porque é de segregação que se trata. Vejamos, se as escolas privadas não seleccionarem os alunos, todos os pais as poderão escolher e, num ápice, a escola privada em nada deferirá da escola pública. As escola privada é diferente porque tem a capacidade de seleccionar os alunos que vai aceitar, residindo neste aspecto o maior factor de sucesso nos famosos rankings.
Não se julgue que é algo de novo, pois é o que existe nas sociedades modelo destes liberaizinhos, como UK e USA.
A campanha da direita habituada aos negócios assegurados pelo Estado está na estrada. Pouco lhe importa as contradições ideológicas, como quando nuns casos defendem menos Estado, mas noutros, como neste dos colégios privados, defendem mais Estado, para pagar esses colégios. Que se salvem os colégios privados, sejam ou não precisos no sistema educativo.
Outra coisa fantástica é o recurso aos tribunais para travar a redução de despesa do Estado. Há coisas fantásticas, não há? Vamos falar de rendas?
Como diria Pinóquio Coelho, habituem-se. Saiam da zona de conforto. Olhem, emigrem."
- Texto de
Em tempo.
ANTÓNIO ROCHETTE. Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi convidado pelo Ministério da Educação de Isabel Alçada, em 2011, para fazer o estudo “Reorganização da rede do ensino particular e cooperativo com contrato de associação”.
Em 2011, a então ministra da Educação, Isabel Alçada, pediu um estudo à Universidade de Coimbra para saber se havia turmas no privado que estavam a ser financiadas pelo Estado apesar de haver oferta disponível em escolas públicas próximas. António Rochette foi o autor do estudo que concluiu que era possível cortar esses contratos de associação em 80% dos colégios. Cinco anos depois recorda ao Expresso Diário as pressões que sentiu. “Fui linchado, fui enxovalhado nas redes sociais, nos jornais. Até mata-frades me chamaram”.
A ver se percebo…
ResponderEliminarQuando se fecharam escolas públicas e encaixotaram alunos em mega-agrupamentos,
quando se congelou a carreira docente,
quando se reduziram apoios sociais às famílias dos alunos carenciados, quando se estreitaram as possibilidades de apoio a alunos com necessidades educativas especiais,
quando se reduziu o número de professores em exercício na ordem das dezenas de milhar,
estava-se a racionalizar a despesa, a combater desperdícios, a contrariar privilégios, a seguir a lógica do retrocesso demográfico e a defender o interesse dos contribuintes.
Quando se anuncia a possibilidade de não renovar alguns contratos de associação com instituições privadas na área da Educação trata-se de um radical ataque ideológico e de uma afronta à Igreja (que nem deveria ser para aqui chamada)?
P.G.
Uma questão entre muitas outras: a Escola Pública, não devia ser idêntica de Norte a Sul, do Interior ao Litoral do Continente às Ilhas? Isto é: o programa educativo preconizado pelo ME ser o mesmo em todas e não haver "actividades" extras que as diferenciam?
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