Vivemos numa Aldeia difícil. A primeira coisa, porém, é nunca desesperar.
Há profetas que se consideram imprescindíveis. Mas, de imprescindíveis, como sabemos, estão os cemitérios cheios.
As Aldeias são resistentes: não morrem assim tão facilmente.
É verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, nunca podemos confundir o trágico com o desespero.
"O trágico", tem de ser encarado positivamente: tem ser uma espécie de pontapé dado na falta de visão.
Este pensamento, sempre conduziu a minha vida e tem sido saudável e positiva a sua aplicação no meu dia a dia.
E há muitas coisas, na Aldeia, que merecem esse pontapé.
Não há vida sem diálogo. Todavia, o diálogo é uma coisa; a polémica é outra.
O diálogo, porém, só é possível com quem o cultiva com civilidade e elevação.
Nunca, com quem prefere a difamação e o insulto.
Nunca, com quem considera que quem pensa diferente não é opositor, mas inimigo: isso, é uma simplificação perigosa.
Aqueles que preferem a calúnia e o insulto, têm de ser contrariados com civismo, determinação e sensibilidade.
Aqueles que ficam quase cegos por obra e graça do seu radicalismo (quem não é por mim é contra mim), e deixaram de viver entre os homens, mas num mundo de sombras, temos de responder com inteligência.
Foi isto que senti, depois de ler a carta a uma criança - que pode ser a filha que o PEDRO AGOSTINHO CRUZ um dia pensa vir a ter - que passo a transcrever na íntegra:
Maria do Mar:
Esta é a primeira carta que te escrevo e ainda não existes…
Vou contar-te uma história triste, mas com um final feliz – ALERTA COSTEIRO 14/15.
Quando o pai, aos 25 anos, decidiu espreitar pela janela e lembrou-se de registar aquilo que o preocupava, o avanço do mar e a erosão costeira em São Pedro, na Cova-Gala, local onde poderás, quem sabe, um dia viver, estava longe de imaginar o episódio político que os que mandam por cá criaram e alimentaram…
Na altura uma colega do pai “apelidou-o” de “fotógrafo inconveniente”, mas calma, tudo isto porque o pai pratica o seu trabalho de uma forma transparente, independente e fala sem rodeios das coisas que são para falar baixinho, ou ao ouvido, ou simplesmente não se deve falar, percebeste?!
A exposição foi inicialmente cancelada! Não aceitei retirar uma fotografia que fazia parte da história. Que ideia mais parva retirar uma página do teu livro de histórias, por exemplo, não era?
Mais tarde, criei com uns amigos a exposição em formato jornal, foi apresentada no dia mundial do Oceanos, dia 8 de Junho. O jornal foi distribuído gratuitamente e conseguimos arranjar dinheiro para plantar 1000 pinheiros mansos no pinhal da Cova-Gala. Fixe, não achas?
Amanhã, dia 23 de Novembro, dia da Floresta Autóctone, vamos finalmente plantar os pinheiros mansos. Vai ser divertido, vamos praticar uma boa acção. Como vês, por vezes, temos que saber lidar com aqueles que não percebem que o mundo é muito maior do que as suas preocupações pequeninas e os seus egos… eles andam por aí, mas não plantam nada, sabes? Só querem cortar raízes, esquecendo-se de que somos todos, tu também, sementes.
Esta é a maneira mais simples que encontrei para te contar esta história ALERTA COSTEIRO 14/15.
Olha Maria, espero que nunca tenhas medo de olhar pela janela, mas se algum dia tiveres medo, pensa que o mundo que vês lá fora ainda pode ser ainda mais perigoso, triste e complicado do que aquele que avistas… e ainda assim vale a pena, vale a pena lutar para que seja melhor.
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