O mundo que temos é este em que vivemos. Portanto: «não importa para onde tentamos fugir, as injustiças existem em todo o lado, o melhor é encarar essa realidade de frente e tentar mudar alguma coisa.» Por pouco que seja, sempre há-de contribuir para aliviar...
De Angola chegam relatos que Luaty Beirão, detido desde junho, se encontra em estado crítico. O artista conhecido como Ikonoklasta, que tem dupla nacionalidade, está há 18 dias em greve de fome. Protesta contra o facto de ter sido preso com outros 14 jovens por se reunirem pacificamente para discutirem a democracia em Angola.
“Não vires o bico ao prego Porque o pregar tem dois bicos: Se virares, com teu apego, O bico, coração cego, Pagarás depois os micos.”
As razões da derrota de António Costa são múltiplas, mas há uma a que dou especial relevância: Costa não conseguiu estruturar um discurso que passasse uma mensagem clara aos cidadãos e que fosse alternativo ao simplismo da coligação. Costa não conseguiu transmitir aquilo de que mais se orgulhava e tentou vender nos cartazes: confiança.
Mas o assunto agora não é o balanço do que foi, é a expectativa do que será. E neste contexto, há muitos anos que penso e defendo o que vou escrever a seguir.
Este momento político pode ser breve e inconclusivo mas terá que dar resposta a uma pergunta que muitos fazemos há tanto tempo: a direita tem o monopólio de acordos, coligações, entendimentos….?
Não sei como será o amanhã, mas estou a gozar o momento, a gozar o cagaço da direita (basta ver o título do Público de hoje (sábado 10 Out) – como se fosse obrigação de Costa apresentar propostas de entendimento a Passos/Portas) e dos comentadores “bem pensantes” completamente baralhados.
O dito presidente de uma República já tinha “tudo” pensado, mas por esta não esperava. E dentro do PS as declarações dos “Lellos” que anseiam por um regresso às “abstenções violentas” e apoiam uma candidatura presidencial favorável à direita, deixam um vazio que alimenta a tese da sua própria impossibilidade como alternativa.
A verdade é que o próximo governo de Portugal tem de romper com o rumo dos últimos quatro anos se quiser impedir que o país tombe na completa indigência. O governo e o Parlamento têm de aprender a viver no mundo real, em vez de fugir para o reino da fantasia. A vocação dos socialistas não é servir de muleta à Direita nem de bode expiatório à Esquerda. O PS está no centro dos debates e da construção de soluções, sem interlocutores privilegiados, porque o Parlamento é, por definição constitucional, "a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses"
E será que não há um mínimo de denominadores comuns entre a esquerda? Claro que sim. E essencial são os valores de ABRIL – justiça social, reforço da escola pública, do SNS e do sistema de pensões, para já não falar da reposição imediata dos feriados do 5 de outubro e do 1º de dezembro, bem como no reforço dos direitos dos trabalhadores, da contratação colectiva, no aumento do salário mínimo…
“Sejamos realistas, peçamos o impossível”, não era esse um slogan de Maio 68? A tese de que o PS se tramou porque virou à esquerda carece de comprovação factual. Alinhar pela retórica sem estratégia, apenas porque sim, esquecendo a realidade sociológica e política do Portugal democrático, seria um erro clamoroso, ditado por uma teimosia sem visão, só capaz de reforçar a vitória da direita, oferecendo-lhe “de bandeja” mais uma década de poder, e em circunstâncias de fácil destruição do Estado e direitos sociais. Mas, para aqueles que “à esquerda” vaticinaram o fim das ideologias, que “isso de esquerda e direita já era”, que agora a retórica florida bastaria para convocar as massas e inebriar os movimentos sociais, atenção... muita atenção... a realidade... chegou. E por tudo isto gostava que o PS não confundisse “a estrada da Beira, com a beira da estrada”.
A concluir: quais as minhas expectativas? Reduzidas. Pois eu sei, tu sabes, ele sabe, que quem manda são as multinacionais (nas suas múltiplas formas). O estado deixou de ser a encarnação da soberania do povo para se tornar uma central de interesses onde os princípios democráticos são apenas pretexto.
Mas dá um certo gozo, mesmo (podendo ser) passageiro!
Neste blogue todos podem comentar... Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas. O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor. No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM. Obrigado pela sua colaboração.
Bem haja Coligação Negativa do Parlamento!
ResponderEliminarDe Angola chegam relatos que Luaty Beirão, detido desde junho, se encontra em estado crítico. O artista conhecido como Ikonoklasta, que tem dupla nacionalidade, está há 18 dias em greve de fome. Protesta contra o facto de ter sido preso com outros 14 jovens por se reunirem pacificamente para discutirem a democracia em Angola.
“Somos todos Charlie”? Uma PORRA !
VOLTINHAS POPULARES
ResponderEliminar“Não vires o bico ao prego
Porque o pregar tem dois bicos:
Se virares, com teu apego,
O bico, coração cego,
Pagarás depois os micos.”
As razões da derrota de António Costa são múltiplas, mas há uma a que dou especial relevância: Costa não conseguiu estruturar um discurso que passasse uma mensagem clara aos cidadãos e que fosse alternativo ao simplismo da coligação. Costa não conseguiu transmitir aquilo de que mais se orgulhava e tentou vender nos cartazes: confiança.
Mas o assunto agora não é o balanço do que foi, é a expectativa do que será.
E neste contexto, há muitos anos que penso e defendo o que vou escrever a seguir.
Este momento político pode ser breve e inconclusivo mas terá que dar resposta a uma pergunta que muitos fazemos há tanto tempo: a direita tem o monopólio de acordos, coligações, entendimentos….?
Não sei como será o amanhã, mas estou a gozar o momento, a gozar o cagaço da direita (basta ver o título do Público de hoje (sábado 10 Out) – como se fosse obrigação de Costa apresentar propostas de entendimento a Passos/Portas) e dos comentadores “bem pensantes” completamente baralhados.
O dito presidente de uma República já tinha “tudo” pensado, mas por esta não esperava.
E dentro do PS as declarações dos “Lellos” que anseiam por um regresso às “abstenções violentas” e apoiam uma candidatura presidencial favorável à direita, deixam um vazio que alimenta a tese da sua própria impossibilidade como alternativa.
A verdade é que o próximo governo de Portugal tem de romper com o rumo dos últimos quatro anos se quiser impedir que o país tombe na completa indigência. O governo e o Parlamento têm de aprender a viver no mundo real, em vez de fugir para o reino da fantasia. A vocação dos socialistas não é servir de muleta à Direita nem de bode expiatório à Esquerda. O PS está no centro dos debates e da construção de soluções, sem interlocutores privilegiados, porque o Parlamento é, por definição constitucional, "a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses"
E será que não há um mínimo de denominadores comuns entre a esquerda? Claro que sim. E essencial são os valores de ABRIL – justiça social, reforço da escola pública, do SNS e do sistema de pensões, para já não falar da reposição imediata dos feriados do 5 de outubro e do 1º de dezembro, bem como no reforço dos direitos dos trabalhadores, da contratação colectiva, no aumento do salário mínimo…
“Sejamos realistas, peçamos o impossível”, não era esse um slogan de Maio 68? A tese de que o PS se tramou porque virou à esquerda carece de comprovação factual. Alinhar pela retórica sem estratégia, apenas porque sim, esquecendo a realidade sociológica e política do Portugal democrático, seria um erro clamoroso, ditado por uma teimosia sem visão, só capaz de reforçar a vitória da direita, oferecendo-lhe “de bandeja” mais uma década de poder, e em circunstâncias de fácil destruição do Estado e direitos sociais. Mas, para aqueles que “à esquerda” vaticinaram o fim das ideologias, que “isso de esquerda e direita já era”, que agora a retórica florida bastaria para convocar as massas e inebriar os movimentos sociais, atenção... muita atenção... a realidade... chegou. E por tudo isto gostava que o PS não confundisse “a estrada da Beira, com a beira da estrada”.
A concluir: quais as minhas expectativas? Reduzidas. Pois eu sei, tu sabes, ele sabe, que quem manda são as multinacionais (nas suas múltiplas formas). O estado deixou de ser a encarnação da soberania do povo para se tornar uma central de interesses onde os princípios democráticos são apenas pretexto.
Mas dá um certo gozo, mesmo (podendo ser) passageiro!