"O dr. António Cação ofereceu o navio à Câmara Municipal e não foi aceite tão preciosa oferta. Que belo seria podermos ver hoje o navio José Cação instalado numa abertura feita na Morraceira, junto à Ponte dos Arcos. Ílhavo tem um belo museu, o navio Santo André e tem o casco do Santa Maria Manuela, o qual pensam aparelhar para pôr a navegar. E o que tem a Figueira que honre os seus filhos?" - palavras de Manuel Luís Pata.
Estávamos em 1998 na Figueira da Foz.
Santana Lopes tinha tomado posse de presidente da Câmara
Municipal há poucos meses.
Com o apoio do Centro de Estudos do Mar - CEMAR, uma
comissão de cidadãos (constituída por Manuel Luís Pata - que, então, estava a
publicar os seus livros sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e já era associado do CEMAR - e pelos últimos Capitães figueirenses desse navio: o Capitão Marques Guerra e o Capitão Abreu da Silva) desenvolveu esforços
para tentar salvar da destruição e da
sucata o último de todos os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz (o
"José Cação", antigo "Sotto Mayor").
Com o declínio das pescas portuguesas, fruto em grande parte da adesão à União Europeia, após o falhanço da tentativa levada a cabo nos anos de 1998 e 1999 de transformar este navio em museu - a Câmara da Figueira presidida então por Santana Lopes não apoiou a iniciativa da sociedade civil - o “José Cação” acabou na sucata por volta de 2002-2003.
Recordo, um pequeno excerto de uma interessante crónica de
Manuel Luís Pata, publicada no jornal O Figueirense, em 2.11.207, que pode ser
lida na íntegra aqui.
"A pesca do bacalhau foi a indústria que mais
contribuiu para o desenvolvimento da Figueira da Foz. Nas campanhas de 1913/14
foi este o porto que mais navios enviou à Terra Nova (15 navios), ou seja,
quase metade de toda a frota nacional. Hoje o que resta? Nada de nada!”
Foi assim que as coisas se passaram, mas tudo poderia ter
sido diferente. Recordo as palavras do vereador então responsável, Miguel Almeida de seu nome: “esta
proposta (a oferta do navio que o dr. António Cação fez em devido tempo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, presidida na altura por Santana Lopes) foi o pior que nos podia ter
acontecido”.
Como disse na altura Manuel Luís Pata, “nem toda a gente
entende que na construção do futuro é necessário guardar a memória”.
E, assim, o “José Cação” foi para a sucata. Como sublinhou Álvaro Abreu da Silva, o seu último Capitão, "foi e levou com
ele, nos ferros retorcidos em que se tornou, a memória das águas que sulcou e
dos homens que na sua amurada se debruçaram para vislumbrar os oceanos”.
Salvar o José Cação não era bom negócio pois adquirir o Palacio de Maiorca, o Convento de Seiça e fazer o Caríbe eram então as principais prioridades...
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