sexta-feira, 1 de maio de 2015

Liberdade - mesmo que a justiça não seja realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e ainda pode contribuir para salvar a Aldeia...

A exposição que esteve montada, à porta fechada, no Mercado de São Pedro, das 17 às 21 horas, do dia 27 de fevereiro, uma sexta-feira. Como se pode verificar, não existem legendas, como foi insinuado ontem na Assembleia Municipal pelo presidente da junta de S. Pedro, António Salgueiro. A exposição era para ter sido inaugurada às 10 horas do dia seguinte.
Na passada quinta-feira, 30 de de Abril, como faço quando posso, subi até ao salão nobre dos paços do concelho para assistir à Assembleia Municipal.
Tive uma enorme surpresa, ao deparar com a discussão de uma moção apresentada pela deputada municipal Ana Oliveira, com o seguinte teor:

"No passado mês de Fevereiro do presente ano, o fotojornalista Pedro Cruz foi convidado pelo Presidente da junta de freguesia de São Pedro a realizar uma exposição da Freguesia de são Pedro, tendo o autor atribuído lhe o nome de “Alerta Costeiro 14/15”.

Esta exposição mostrava imagens que documentam a erosão do litoral costeiro, em especial a zona da freguesia de S. Pedro.

Nas vésperas da inauguração, a exposição do fotojornalista foi cancelada, alegando o presidente de junta do partido socialista, que a mesma estava politizada, mostrando, no nosso ponto de vista, uma verdadeira barreira à liberdade de expressão.

O que é certo, é que, com este infeliz desfecho e tal como o artista comunicou numa rede social, “O alerta foi dado” e mais do que nunca a população e as várias entidades com responsabilidades sobre o assunto “Olharam com olhos de ver” para o real problema que aquela freguesia e que o concelho da Figueira da Foz está a sofrer com esta constante devastação da zona costeira.

Neste sentido propunha à Assembleia Municipal, que pelo impacto e para mantermos viva a nossa preocupação sobre a solução deste assunto, que convidassem o fotojornalista Pedro Cruz a realizar a exposição “Alerta Costeiro 14/15” nos Paços do Concelho."

Na votação verificou-se um empate:16 votos a favor, 16 contra e 1 abstenção. 
O Presidente da Assembleia Municipal teve de decidir com o seu voto de qualidade.
Sobre as ilações políticas a tirar, não me vou pronunciar: deixo isso a quem de direito. 

Sobre este assunto, recordo que as fotos da “A EXPOSIÇÃO CENSURADA PELO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE S. PEDRO, em finais do passado mês de fevereiro, podem ser vistas clicando aqui. O comunicado emitido pelo presidente da Junta de S. Pedro, António Salgueiro a propósito do cancelamento da exposição fotográfica ALERTA COSTEIRO 14/15, emitido na altura, pode ser lido clicando aquiA estória é curta e está contada aqui
Portanto, quem estiver de boa fé, tem os elementos para construir uma opinião fundamentada.

Esta estória exemplar, a meu ver, demonstra, quarenta e um anos depois da queda da ditadura de Salazar e Caetano, como este país continua afinal igual a si próprio e ao que sempre foi: um pobre e bisonho paraíso paroquial para pequenos chefes labregos que - no seu boçal entendimento, certamente inebriado pelo esplendor do mando - pensam que podem apagar figuras de uma paisagem.
Mas, também, demonstra que há algo - para além do talento, claro - que um artista consciente, ainda que pobre, nunca admite que lhe seja escamoteado: o orgulho e o amor-próprio.

O senhor presidente da junta de S. Pedro, pelo que disse na passada quinta-feira na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, passados mais de 2 meses, continua sem perceber o óbvio.
A exposição era do artista: na totalidade - no talento e nos custos.
A Liberdade é isto, senhor presidente.
“Seu” era o espaço do Mercado de São Pedro.
O senhor presidente, por não gostar de uma fotografia que fazia parte da narrativa do fotojornalista, entendeu interditar o acesso ao espaço. Problema seu, caro presidente da junta.
Neste momento, a exposição do Pedro Cruz já foi mais longe do que o senhor pensa. E não vai ficar por aqui.

Já passaram 41 anos do 25 de abril de 1974.
Quem mora em S. Pedro e recorda Abril, sente que celebra um acontecimento já longínquo - daqueles que começam a ressoar a liturgia morta. Essa é, infelizmente, a realidade. Mas a memória tem de ser avivada,  sempre que  estiver em causa a questão da Liberdade. A dignidade não tem preço e, em democracia, a comunidade não pode perdoar a indignidade de quem governa.

V. Exa., na sessão da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, realizada no passado dia 30 de Abril de 2015, mesmo descontando que não tem vocação para discursar, falou sem dizer nada perceptível, nem, ao menos uma palavra autêntica de arrependimento. Na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, V. Exa. foi aos limites da náusea, sem carisma, nem dignidade institucional – e estava lá, como deputado municipal, por ser presidente, com maioria absoluta, da freguesia da minha Aldeia.
Senti-me muito mal representado como freguês de S. Pedro. 
Admito que o momento foi difícil para V. Exa. Contudo, a grandeza dos homens emerge nos momentos difíceis.
V. Exa.,  pelo que disse na Assembleia Municipal, desconhece a palavra grandeza, só conhece a palavra poder. Desconhece a palavra dignidade, só conhece a palavra arrogância. Desconhece a palavra humildade, só conhece a palavra vingança. 
Depois do que aconteceu na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, parece-me que no mais alto forum político de debate concelhio, a recuperação da imagem do presidente da junta de freguesia de S. Pedro – que é V. Exa. - não tem retorno. 

Antes tivesse permanecido calado.
Num palco da política – e a Assembleia Municipal da Figueira da Foz é o maior palco político do nosso concelho - os discursos valorizam-nos ou desvalorizam-nos. E a  postura, as palavras e a falta de ideias dele, na qualidade de presidente da junta de S. Pedro, não foram um bom sinal. 
E, depois, como acontece com todos os fracos, a sua atitude foi boçal, imprevidente e insensata.
Tive pena de V. Exa., principalmente quando disse – ou deu a entender - que a exposição tinha legendas, o que, como sabe, é uma completa e real mentira. Ponto.
Como escreveu um dia Albert Camus: “É horrível ver a facilidade com que se desmorona a dignidade de certos seres. Vendo bem, isso é normal visto que a dignidade em questão apenas é mantida por eles através de incessantes esforços contra a sua própria natureza.”   

5 comentários:

  1. Sabes uma coisa, Agostinho...?
    Saber que o Tó Salgueiro tomou essa atitude, até me dá um nó na goela...
    Mas todos temos momentos menos bons...

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  2. Acho que há razões mais do que suficientes para o presidente da Junta de Freguesia apresentar a demissão, mas isso era se vivêssemos num país mais ou menos decente. Mas nem o (des)governo da nação, um grupo de escroques, a pede...

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    1. Você anda a ver muitos filmes sr. Alex

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  3. A Arte de Furtar01 maio, 2015 20:23

    Este assunto só tem uma recordação: lápis azul!
    Este assunto só tem uma lição: há gente com saudades do pensamento único !
    Este assunto tem um aviso: sou eleito democráticamente e governo "orgulhosamente só"!

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  4. Se fosse no estrangeiro se pedia o "impeachment".
    Como estamos aqui, na beira mar plantados, se ajustava bem só uma moção de censura. Como ele tem maioria na Assembleia nem entendo porque já não a apresentou e enterrava esse assunto de vez.
    No resto concordo 100% com as palavras do blogueiro Alex Campos.

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