domingo, 10 de maio de 2015

A propósito de uma asa de um garrafão de vinho que me ficou hoje na mão lembrei-me dos Gaibéus...

foto António Agostinho
Hoje, ao fim da tarde, ao arrumar uns garrafões de tinto e branco, fiquei com a asa de um na mão.
Estão a ver a cena: 5 litros de bom tinto (tantos copos!..) foram à vida e fiquei com a cozinha numa lástima.
Primeiro, fiquei danado. Depois, parei para pensar e lembrei-me dos Gaibéus (que são os jornaleiros da província portuguesa do Ribatejo ou da Beira Baixa que vão trabalhar nas lezírias durante as mondas) o primeiro romance de Alves Redol, que inaugura em 1939 o neo-realismo em Portugal.
Este livro, que aconselho a leitura, retrata "um povo resignado que luta afincadamente durante o tempo quente, antes da chegada do Inverno, em condições extremas para fazer render os poucos cobres que lhes pagam por tamanha dureza. Por um lado o trabalho árduo de sol a sol, as doenças (malária), a fadiga e a teimosia em cada vez se fazer o trabalho mais rápido para mais rendimento obter, a sede, a fome, a pobreza extrema. Por outro lado, o modo como preenchiam as escassas horas de lazer, os sonhos de uma vida melhor, os projectos sem logro, o vinho para alegrar os espíritos."
A obra, lembro-me bem - e já a li há mais de 30 anos - marca o estilo de Redol, autor que através das palavras denunciou as desigualdades sociais e a exploração do homem pelo homem.
Perdi 5 litros de boa pinga e tive uma trabalheira dos diabos para limpar a cozinha, mas nem tudo foi mau: recordei Alves Redol.

2 comentários:

  1. Camarada os teus garrafões estão a ficar velhos .
    Já vi que não esses garrafões que nos hão-de guiar um dia.
    Abraço.

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  2. àgua do garrafao , isso é habito burges e capitalista

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