quinta-feira, 2 de abril de 2015

O legado de Manoel de Oliveira

Morreu Manoel de Oliveira e está instalado o drama nacional.
Do meu ponto de vista, o drama não foi ter morrido Manoel de Oliveira: o drama foi ter morrido um jovem de 106 anos, chamado Manoel, filho de alguém, neto de alguém, amigo de alguém.
Do meu ponto de vista, o drama foi ter-se constatado o óbvio - há pessoas que julgamos imortais: tal como disse um dia Manoel de Oliveira,  "a vida é uma derrota".
Foi o que ensinou a vida a um homem centenário, que atravessou quase todo o século XX e os primeiros 14 anos do século XXI: nascemos contra vontade e não somos senhores do nosso destino.
Era um homem solidário.
Em 2010, num artigo para o PÚBLICO, em "defesa do cinema português", mostrou que pensava nas condições cada vez mais difíceis dessa coisa de fazer filmes em Portugal. Que pensava nos seus colegas.
"Eles, como eu, sempre viveram na precariedade e na insegurança, sem reforma nem subsídio de desemprego, e sem nunca sabermos se não estaremos a fazer o nosso último filme. Eles, como eu, só temos um desejo: todos ambicionamos morrer a fazer filmes." 

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