"Nos nossos hospitais, voltaram a aparecer doenças que tinham sumido: escorbuto, desidratação e hipotermia.
Lembro-me, como a maioria também se recordará, de estudar o escorbuto na escola, mas não numa disciplina de Biologia ou Saúde. Falava-se da patologia nas aulas de História: esse ataque às gengivas, provocado pela grave carência de vitamina C, era coisa de marinheiros que passavam meses a fio em alto-mar, durante os Descobrimentos, sem condições de salubridade nem vegetais ou frutas.
Era maleita longínqua, há muito erradicada, uma doença de museu. O escorbuto pertencia aos males dos trabalhadores explorados, à pobreza e à ignorância. No nosso imaginário infantil, ficou como um símbolo medieval.
Quando agora, num país europeu no século XXI, chegam aos hospitais casos de escorbuto e pessoas a morrer de fome, de sede ou de frio, fica claro que a austeridade é uma barbárie e que esta política só tem lugar na idade das trevas. Que é para onde deviam ir os criminosos que a praticam."
JOANA AMARAL DIAS
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