A propósito duma polémica da treta, um dia destes, no facebook, li algures por aqui um comentário que dizia mais ou menos
isto.
“Quanto
à comunicação social da Figueira, seria bom que as pessoas
soubessem quantos jornalistas existem. Por muito bons que sejam, não
conseguem acompanhar tudo. É fácil falar estando de fora, mas é
difícil fazer melhor.
Sabem o que é estar 24h/24h em
serviço? A Foz do Mondego, o Figueira na Hora e a Voz da Figueira
têm UM JORNALISTA! Sabem quanto tempo demora editar, confirmar
dados/fontes e divulgar uma notícia?“
Para
quem acompanha de perto as fragilidades da comunicação social
figueirense nos últimos 40 anos, isto não é novidade. Eu
próprio sabia que a coisa funciona assim. E
a situação tem vindo a piorar, ano após ano. Fecho de jornais,
despedimento de jornalistas, falta de estabilidade profissional,
falta de liberdade, essa
foi uma realidade que o próprio autor deste blogue foi acompanhando
ao longo dos tempos...
Neste
momento, os órgãos de comunicação figueirenses sobrevivem com as
redacções mais "magras", "leves" e "baratas",
que é possível. A partir daqui, só se fizer comunicação social
sem jornalistas. Crê-se, por isso, que "o pior já tenha
passado".
Além
da dimensão humana deste problema, também aqui na Figueira, a
questão principal tem a ver com a falta de enquadramento em termos
de paradigma com que estas alterações e despedimentos são feitos.
Ou seja, está-se perante meras operações contabilísticas, sem
qualquer sustentação naquilo que deveria ser o modelo do jornalismo
no futuro e do negócio que o sustenta. Isso acontece, em parte,
porque ainda não se sabe bem qual o caminho que o jornalismo pode seguir e, muito menos, que esquema de financiamento o pode
viabilizar.
Como
alguém ligado ao sector me disse recentemente, fazer depender hoje em dia um
projecto jornalístico de receitas de publicidade e de vendas em
banca (ou por assinatura) é a receita para o desastre...
Como, aliás,
se viu com projectos editoriais recentes em Portugal, que foram
lançados cheios de pujança, mas alicerçados em modelos obsoletos e
que, rapidamente, se viram confrontados com a dura realidade dos
números.
Então,
que novas
formas de negócio existem neste sector que possam viabilizar os
jornais e o jornalismo num futuro próximo?
Um
desses modelos já foi testado no Figueirense, depois de ser propriedade
do Casino, e continua em vigor na Foz do Mondego Rádio do empresário e político Fernando Cardoso: passa, digamos assim, por uma espécie de mecenato.
No
fundo, para abreviar, acredita-se que se parte do princípio de que o investimento
financeiro é feito sem uma lógica de lucro inerente (e até mesmo a "fundo
perdido")...
Então,
qual seria o interesse?
Em causa, poderia estar outro tipo de "retorno", que pode
ser prestígio cultural, social, “poder” pelo controle da
informação, controle político, etc.
Este,
é apenas um caminho que o jornalismo e os jornais poderão vir a
seguir nos próximos anos.
Para
já, ainda não foi encontrada a fórmula que garanta a sua
viabilidade saudável para o futuro. Como o exemplo do Figueirense
provou.
Para já, continua a funcionar a Foz do Mondego Rádio...
Desde que me conheço, que me considero um observador atento da dura
realidade dos meios de comunicação social figueirense.
Na
Figueira, do meu ponto de vista, a comunicação social continua a
ter os pecadilhos de sempre: falta de ideias próprias; e continua presa a velhas rotinas, que impedem a sua renovação.
Basta
ver os conteúdos. O grosso da coluna das notícias veiculadas pelos
órgão de comunicação locais, provem das fontes oficiais ou institucionais.
Não falam das pessoas normais - as que no fundo lêem jornais e ouvem rádio.
Os
jornais – e os jornalistas - gravitam em torno dos poderes, como
mosquitos à volta duma lâmpada acesa numa noite escura, numa zona
de águas estagnadas e mal cheirosas.
Culpa
dos jornalistas?
Também,
mas não só.
Os
interesses – não só os económicos – é que determinam as
regras do jogo.
Mas
quais são os grandes pecados?
Na
minha óptica, os grandes pecados dos media figueirenses são o
comodismo, a desatenção, o respeitinho pelo poder, o alheamento da
sua tarefa histórica de vigilância democrática.
Só
que o público está cada vez mais atento e a ganhar uma postura cada
vez mais pensada e interveniente.
Os
tempos dos leitores e dos ouvintes se deixarem reduzir a simples
consumidores de conteúdos, sem qualquer postura crítica
relativamente ao menu mediático que lhe é proposto, estão a
acabar.
Algo
está a mudar.
Lenta,
mas progressivamente, a influência dos media na sociedade está a
impor leitores, ouvintes e telespectadores cada mais críticos e
atentos à comunicação social e à sua mensagem.
No
País em geral. E também na Figueira.