É um programa de entrevistas quinzenal.
Salvo erro ou omissão vi dois.
O
critério de escolha dos entrevistados não sei qual é. E
isso pouco importa, pois, a meu ver, nem é uma vantagem, nem constitui uma
desvantagem.
Nesta entrevista, que já tem dois meses e que, lamentavelmente, me ia
passando ao lado, destaca-se a qualidade reconhecida das duas personalidades, peritas a criar factos e notícias.
Quando, em Junho de 1871, começaram a aparecer, nesta fase com Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, AS FARPAS não eram didácticas.
Depois de Setembro/Outubro de 1872, quando as prosseguiu sozinho, Ramalho decidiu instruir os seus compatriotas, a fim de os salvar.
Encontrou, ao princípio,
uma pequena dificuldade. Para ensinar precisava antes de saber e ele
não sabia nada, ou quase nada.
Pôs-se ao trabalho.
Encomendou livros em Paris e Londres e aplicadamente, leu-os.
Eça de Queiroz, mais tarde, com benevolência e como se fosse um elogio, deu conta de que Ramalho tinha lido de tudo:
química e filosofia, mecânica e teoria da educação, história e
biologia, física e literatura.
Durante anos, armazenou energicamente
na cabeça, a eito, a tralha intelectual do seu tempo.
Tal facto, deu-lhe
um infinito sentimento de superioridade sobre a gente boçal que se pavoneava, por essa altura, pelo Chiado e ele passou a considerar-se preparado para
conduzir a pátria, pelo caminho dos seus interesses.
As
Farpas são, ao fim e ao cabo, um típico produto português: a obra de um provinciano
autodidacta.
Não sei
porquê, lembrei-me disto depois de ouvir, pela enésima vez, nesta entrevista, explanar a treta do
costume: as duas personalidades, longe de revelarem o que quer que seja
sobre a nossa realidade, contribuíram, mais uma vez, para impedir que os figueirenses
a vejam.
Esta cidade anda mesmo em maré de azar acontece-lhe tudo.
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