“Em
1913 o engenheiro Baldaque da Silva apresentou o seu projecto de
construção de um porto oceânico e comercial ao sul do Cabo
Mondego. Fê-lo sob a curiosa designação de “Representação
dirigida ao Congresso Nacional da República Portuguesa sobre o
engrandecimento da Beira e a construção do porto oceânico comercial do
Cabo Mondego”, apoiado no tratamento estatístico da actividade
económica de toda a região.
Não
é o do conhecimento do autor
destas linhas as razões da sua não materialização e se a mesma
teria viabilidade técnica e económica, sendo embora um apetecível
exercício de imaginação reflectir sobre essa possibilidade. O
facto é que o projecto foi apresentado, devidamente fundamentado,
com um cunho eminentemente regionalista apoiado na evidente
preocupação de juntar sinergias.”
Aproveitando
a boleia da crónica desta semana do eng. Daniel Santos no jornal As
Beiras, recordo um texto do CapitãoJoão Pereira Mano,
(autor de "Terras
do Mar Salgado: São Julião da Figueira da Foz…" [1997],
Associado Honorário
do CEMAR-Centro de Estudos do Mar [2008], e Medalha de Ouro de
Mérito, a título póstumo [2012], da cidade da Figueira da Foz),
acerca do Com. Antonio Arthur Baldaque da Silva e acerca do seu
projecto de porto oceânico de águas profundas a construir no Cabo
Mondego (Buarcos):
(…) Autor
de diversos projectos de portos portugueses, e mesmo estrangeiros, o
engenheiro Baldaque da Silva — filho do engenheiro Silva que em
1859 conseguiu restabelecer a barra da Figueira ao Norte, depois de
ter construído o dique ou paredão do Cabedelo — foi o autor
do projecto do “Porto oceânico-comercial do Cabo Mondego” que,
além do molhe de abrigo — agora muito bem lembrado na
imprensa pelo figueirense Bruno de Sousa — delineava
uma doca comercial de 52 hectares de área, só aberta nos 150 metros
da sua entrada, limitada a Oeste pela parte do molhe que termina nos
Formigais, e concluía por uma portentosa rede de canais a ligar
o novo porto a Aveiro, Leiria e Coimbra — já não falando em
estruturas diversas, como sejam diques, doca de pesca e o respectivo
cais. Na altura, e ainda anos depois, os jornais da Figueira
bateram-se pela execução deste, ou de parte deste projecto, tendo
mesmo “A Voz da Justiça” começado a publicar o trabalho deste
denodado engenheiro hidrógrafo, a partir do nº 1136, de 21 de
Out. de 1913. Mas, como é óbvio, nada conseguiram. Porém, se a
Figueira quiser ter um PORTO só ali o terá. Como a Cidade Invicta
teve o seu em Leixões. E, no Cabo Mondego, há ou havia, para tal,
condições muito mais propícias do que aquelas que a foz do rio
Leça ofereceu.
(in
MANO, João Pereira, Terras do Mar Salgado: São Julião da Figueira
da Foz, São Pedro da Cova-Gala, Buarcos, Costa de Lavos e Leirosa,
Figueira da Foz: Centro de Estudos do Mar, 1997, pp. 321-322.)
E, já agora, aproveito para recordar ainda o que me tem dito ao longo dos anos o
velho e experiente Manuel Luís Pata, nas inúmeras e enriquecedoras
conversas que ao longo da minha vida com ele tenho tido: “a
Figueira nasceu numa paisagem ímpar. Porém, ao longo dos tempos,
não soubemos tirar partido das belezas da Natureza, mas sim
destruí-las com obras aberrantes. Na sua opinião, a única obra do
homem de que deveríamos ter orgulho e preservá-la, foi a
reflorestação da Serra da Boa Viagem por Manuel Rei. Fez o que
parecia impossível, essa obra foi reconhecida por grandes técnicos
de renome mundial. E, hoje, o que dela resta? – Cinzas!..”
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