Como
escrevi aqui, “eu estive lá”. Eu vivi lá, no antes do 25 de Abril de 1974.
Eu
tinha 20 anos quando se deu o 25 de Abril.
Agora, anda por aí gente a fingir que antes do 25 de 1974 aquilo não era mau.
Eu estive lá, eu vivi lá e posso assegurar que era mesmo muito mau.
Agora, anda por aí gente a fingir que antes do 25 de 1974 aquilo não era mau.
Eu estive lá, eu vivi lá e posso assegurar que era mesmo muito mau.
Na Cova e Gala, era
o tempo do pé descalço, da fome envergonhada ou às claras.
Era o tempo em que colegas da primária iam para a escola a correr pelo areal, para tentar aquecer os pés descalços e sem nada no estômago.
Era o tempo em que colegas da primária iam para a escola a correr pelo areal, para tentar aquecer os pés descalços e sem nada no estômago.
O
empobrecimento dos dias que passam, é um murro que incomoda e uma
má memória, para quem, como eu, por exemplo, é do tempo da miséria na Cova e Gala – miséria mesmo, com piolhos e tudo.
Estou
a referir-me à vida nas décadas de 50 e 60 do século passado, numa
pequena aldeia de 2.500 habitantes, localizada à beira do Atlântico,
perto da importante cidade balnear da Figueira da Foz, onde se vivia
pior que nas localidades vizinhas.
A ausência de esgotos, a corrente
eléctrica considerada uma excepção, a miséria material, as
condições de trabalho desumanas, a deterioração das células
familiares, a má nutrição era, lamentavelmente, a situação de
toda uma região economicamente desfavorecida.
Era o tempo em que a Cova era um lugar isolado, quase que perdido, onde ninguém se deslocava.Eu estive lá.
E continuo a ter memória.
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