O governo desmente-se a si próprio, o que não é uma técnica
de gestão recomendável.
Persiste um enigma: foi Montenegro que driblou as Finanças
ou estas que desautorizaram o chefe do grupo parlamentar?
O leitor em breve o saberá, mesmo que o governo não nos
brinde com o desmentido do desmentido do desmentido. É claro, porém, que o
PSD está dividido sobre as vantagens do
suicídio português maquilhado de política de austeridade.
Hoje, no jornal i pode ler-se:
“O secretário de Estado da
Administração Pública revelou a jornalistas matéria sensível sobre pensões.
A Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), que
atinge os reformados com pensões acima dos 1350 euros é provisória, mas o
governo está à procura de uma medida de igual valor que mantenha os cortes nas
pensões que até aqui a CES tem garantido.
O que o governo assegurou ontem, através do ministro da
Presidência, é que para além dessa medida - relativamente à qual negou existir
uma formulação definitiva, uma vez que não há conclusões do grupo de trabalho -
"não haverá reduções adicionais de rendimento dos reformados em
Portugal".
A polémica sobre o
novo desenho nos cortes das reformas rebentou ontem depois de vários diários
trazerem na primeira página pormenores sobre a possibilidade de manter os
cortes aos pensionistas perante a necessidade de acabar com a Contribuição
Extraordinária de Solidariedade. A informação revelada era resultado de um
briefing convocado pelo Ministério das Finanças, mas apanhou de surpresa o
primeiro-ministro e o ministro responsável pela coordenação política, Poiares
Maduro, que desconheciam que as Finanças tinham decidido revelar à comunicação
social pormenores do que estava em cima da mesa. Em visita oficial a
Moçambique, Passos Coelho apressou-se a classificar as notícias dos cortes
permanentes nas pensões como fruto da "especulação", mas não deixou
de mostrar claramente o seu desagrado com a decisão das Finanças de divulgar
peças do processo aos jornalistas: "Por vezes assisto ao debate público
sobre estas matérias e penso que ele podia ser mais sereno e mais informado do
que é e espero que os membros do governo contribuam também para isso",
disse o primeiro-ministro.
Quanto à notícia concreta, tanto primeiro-ministro como
ministro da Presidência remeteram-na para o domínio da "especulação".
"Não faz sentido estar a especular, será decidido no governo, não será
decidido sem a minha participação", disse Passos Coelho. Com a ministra
das Finanças ausente de viagem a Washington, coube ao secretário de Estado da
Administração Pública, José Leite Martins, a condução do encontro com
jornalistas que apanhou o núcleo duro do governo de surpresa. A reunião era um
briefing - em que o secretário de Estado aceitou que as informações fossem
atribuídas a "fonte oficial das Finanças".
O problema é que a divulgação não estava coordenada ao mais
alto nível e rapidamente tanto o primeiro-ministro como o ministro da
Presidência se apressaram numa operação de "controle de danos".
Luís Marques Guedes culpou directamente os jornalistas
presentes por, alegadamente, terem transformado uma "conversa em off"
em notícia. "Acho que as interpretações feitas pela comunicação social de
conversas tidas com alguns membros do governo ou com um membro de um governo -
não sei quem tenha sido - é exagerada para não dizer abusiva. Uma coisa é fazer
um ponto da situação sobre os trabalhos que estão a decorrer, outra coisa é
tirar daí conclusões. Se os jornalistas pretenderam transformar uma conversa em
off num ponto de situação num dado adquirido, não chamaria a isso uma fuga de
informação, chamaria a isso uma manipulação de informação". Mas a verdade
é que não se tratava de uma "conversa em off". Secretário de Estado e
jornalistas combinaram - à boa moda dos briefings - o que podia ser atribuído a
"fonte oficial das Finanças" e o que não podia. Mas decididamente
neste governo um briefing é uma actividade maldita.”
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